Fantasias sexuais

“Quero sua risada mais gostosa/ Esse seu jeito de achar/ Que a vida pode ser maravilhosa / Quero sua alegria escandalosa / Vitoriosa por não ter/Vergonha de aprender como se goza / Quero toda a sua pouca castidade / Quero toda a sua louca liberdade/ Quero toda essa vontade / De passar dos seus limites... E ir além...”

(Vitoriosa - Ivan Lins)

Numa conversa entre amigos trocávamos impressões sobre nossas vidas, nossas inquietações, sonhos, relacionamentos. Em meio a tudo isso surgiu uma discussão sobre fantasias sexuais ficando algumas perguntas no ar.

Aproveito este espaço para respondê-las, visto que esta é uma tribuna livre e qualificada. Aqui me sinto à vontade em fazê-lo já que meus textos, mesmo quando não são autobiográficos, discorrem sobre sentimentos, reflexões e opiniões em relação aos mais diversos assuntos.

Neste caso, são argumentos do senso comum , sem pretensão nenhuma de me intitular conhecedora do assunto, uma nova Marta Suplicy e menos ainda, uma “cover” da Penélope, já que não tenho tatuagem e nenhuma disposição em fazê-las .Vou comentar um pouco o que é a fantasia para uma mulher. Aliás, não sei se para qualquer mulher, mas para esta que lhes escreve.

Acho que a fantasia é fundamental na vida de homens e mulheres. Sempre achei que elas determinam o nível da minha libido. Então nem preciso dizer o quanto exerço minha prerrogativa de fantasiar, de ser dona única deste espaço que só a mim diz respeito. A fantasia é o espaço mais íntimo, mais pouco convencional, mais transgressor. É a não-realidade imediata, embora algumas possam, devam tornar-se reais. Outras, são preferíveis manter na imaginação...

Um relacionamento pressupõe o estabelecimento de uma boa parceria, que, por sua vez, necessita de conhecimento, de aceitação das diferenças, de compreensão das necessidades de cada um, de cumplicidade. Nem sempre os casais são parceiros, mas não tenho dúvidas que devem ter lá suas fantasias. Se querem vive-las, se conseguem realizá-las, é outro porém.

Mas, devo confessar que minhas fantasias são coisas para o antes, não para o durante. Antes, um toque, um cheiro, um gosto me fazem viajar, pensar num monte de coisa desconexa, imagens, sons, palavras, gestos... Durante, concentro-me em mim, no meu corpo, nos meus sentidos. Em dizer ao meu parceiro o que quero, como quero.

E como sou mais auditiva que visual, gosto de ouvir, de falar. Por isso, filmes, fotos, apelos visuais de modo geral, não fazem a minha cabeça. Já ouvir uma música ou ler, faz minha imaginação voar, literalmente.

Sabem aquele poema de Ferreira Gullar "uma parte de mim pesa, pondera; outra parte delira” (Traduzir-se) ? É assim que me sinto. Não tenho nenhum pudor em admitir que cultivo fantasias, que, de modo geral, funcionam como um estímulo ao meu desejo. Sei também que o normal, o esperado seria negar isso, me esconder numa capa de hipocrisia, de falso moralismo. Aliás, muitas mulheres sequer teriam a chance de conversar isso abertamente, com amigos. Com o parceiro então, o mundo desabaria. E a saída então seria procurar uma amiga íntima, um terapeuta e, na pior das hipóteses, um confessor.

Atrevo-me a dizer que se uma mulher preserva em si a capacidade de fantasiar, imensas serão suas possibilidades de sentir e dar prazer. Admitir ter fantasias, conversar sobre elas com amigos e com o parceiro, faz com que recusemos este papel de mulheres passivas, de seres desprovidos de qualquer necessidade erótica, cujo prazer é só o prazer do outro.

Mas fantasiar é mesmo o quê? Digo que é deixar a imaginação dar voltas, sobrevôos, mergulhos. É “viver”, mesmo sozinha (o), o amor, sem falsos pudores, com riqueza de detalhes, com delicadeza, com sensualidade, com alegria. E, no terreno da fantasia, admitir que tudo é possível... E qual é o problema disso?

Acho que homens e mulheres que não fantasiam deveriam sim, procurar um terapeuta...

Em tempo: se leu até o último parágrafo, leia também FINGIR PRA QUÊ? OU O PRAZER É MEU...postado aqui também. Notas de uma mesma sinfonia...