O QUE É QUE A BAIANA TEM

Essa pergunta foi imortalizada em música por Dorival Caymmi.

O que é que a baiana tem?

Todas as tardes em diversos pontos da cidade nota-se o reboliço das baianas estilizadas apressando-se em montar seus tabuleiros onde expõem os mais diversos e saborosos quitutes da culinária baiana de origem africana.

Em pouco tempo o cheiro do acarajé se espalha e as pessoas aproximam-se dos tabuleiros já com água na boca esperando a vez de deliciarem-se com

um saboroso acarajé.

O que é que a baiana tem?

Tem torço de seda, tem.

Tem brincos de ouro, tem.

Corrente de ouro, tem.

Tem pano da costa, tem.

Tem bata rendada, tem.

Pulseira de ouro, tem.

Tem saia engomada, tem.

Sandália enfeitada, tem.

Tem graça como ninguém.

E no tabuleiro tem acarajé, vatapá, caruru, abará. Tem passarinha, cocada, e tem mugunzá. Tem bolinho de estudante, queijada de amendoim, doce de tamarindo, tem bolo de aipim.

Invariavelmente arrumam seus tabuleiros por volta de 15:00h e ja colocam azeite de dendê para esquentar. Enquanto o azeite ferve com uma cebola dentro, apressam-se a sovar a massa do feijão fradinho para moldar os bolinhos de acarajé que logo vai para o azeite para fritar e espalhar o cheiro irresistível.

Certa tarde, sem nada para fazer e estando licenciado do serviço no porto, Miguel que havia sido admitido a pouco na estiva e vindo de Santo Amaro resolvera perambular pela avenida da França. Ao ver o movimento das baianas, acercou-se de uma delas a fim de esperar a primeira leva de fritura de acarajés.

Observou um rapaz subir em uma árvore e de cima do abrigo do ponto de ônibus pegar uma lata vazia de óleo de soja e um banco com o assento vazado.

Observando tudo percebeu que a baiana colocou a lata em um canto do abrigo de ônibus e em seguida encaixou cuidadosamente o banco sobre a lata. Depois, afastando a roda da saia de sua roupa branca, assentou-se no banco e iniciou seu trabalho de preparo do acarajé e da arrumação dos quitutes que trouxera de casa, no tabuleiro deixando os produtos à mostra aos fregueses.

Logo Miguel estava se deliciando com um saboroso acarajé.

Mas algo o deixava intrigado: como aquela mulher passava tanto tempo sem levantar ao menos para fazer xixi? Será que ela não sentia vontade?

Como já havia observado em outras ocasiões, resolveu desvendar naquela noite esse mistério.

Após comer o acarajé, pagou e atravessou a rua indo sentar-se em um banco na praça contígua à avenida Estados Unidos, em frente ao prédio dos Correios.

Esperou algumas horas e já perto das 21:00h percebeu que a baiana começou a recolher seus utensílios a fim de encerrar o dia de trabalho.

Miguel mais curioso do que nunca, atravessou a pista, aproximou -se da baiana e perguntou: me mate uma curiosidade. Como é que a senhora consegue ficar tanto tempo sentada nesse banco sem se levantar nem para fazer xixi?

A baiana levantou-se do banco e mandou Miguel olhar dentro da lata: o mistério estava desvendado. Aquele banco vazado e a lata embaixo servia como vaso sanitário e ali a baiana se aliviava.

Após isso, o garoto que auxiliava a baiana pegava a lata e despejava no ralo do esgoto da rua e em seguida colocava a lata e o banco sobre o abrigo de ônibus amarrando-os a um galho de árvore.

Naquela noite Miguel foi dormir sabendo o que é que a baiana tem.

Valdir Barreto Ramos
Enviado por Valdir Barreto Ramos em 07/02/2023
Reeditado em 09/02/2023
Código do texto: T7713337
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