Ontem no trem: povinho brasileiro

Ontem no trem!

Embarquei! Quanta dificuldade mental e física... Por falar em física, quem viaja de trem contraria o Princípio da impenetrabilidade da matéria você pode ter certeza que vários corpos distintos podem ocupar o mesmo lugar no espaço e ao mesmo tempo! No trem pode!

Pois bem, retorno o meu olhar para esta gente humilde, trabalhadora, guerreira e esforçada. Braços e pernas desta nação... Membros não são importantes? Pense só numa cabeça andando por ai? Esquisito, né? Comanda o quê e quem? Incompleto também seria o contrário.

Somos únicos! Parte de um todo que se completa não em sua soma individual, mas na sua totalidade. Juntos, somos gigantes e misturados, imbatíveis! Isolados somos boiada, desesperança, aniquilação, frio... O interessante é que ultimamente a sensação que temos é de muito frio... Envolto em nós mesmos, não somos capazes de nos aquecer e estamos cada vez mais enfraquecidos e, por conseguinte voltamos para nossa exclusiva sobrevivência e nos isolamos.

Temos até noção do outro e das mazelas do mundo, mas a todo instante o que nos falta é tempo, coragem, confiança...

A todo tempo ouvimos que somos desorganizados, burros, desunidos, insensatos, incapazes, egoístas...

A gente mesmo se autodeprecia e se autodenomina “ povinho brasileiro".

Será que já paramos para pensar sobre este estigma que recaiu sobre nós? Será que não existe um movimento muito mais poderoso que vê utilidade neste pensamento? Será que isto não é estratégia para exatamente nos comportarmos como na profecia? Aí sim, seremos cada vez mais fracos, mais desarticulados, mais medíocres, mais manipuláveis...

Posso até ter “Síndrome de Pollyana”, mas prefiro assim! A contrassenso, eu acredito na bondade, honestidade e solidariedade deste povo. No meu dia a dia vejo muita gente se doando, compartilhando alegrias, conhecimentos, conselhos... Repartindo o pouco que tem!

Vi gente que repartiu o que ganhou e o que nem mesmo conseguiu ganhar. O rapaz que no trem pedia ajuda para divulgar a sua arte e deu o pouco que recebeu para outro que passava e estava em situação mais lamentável. Uma mulher, vendedora de balas, que deu sua " quentinha", seu único almoço, para outra mulher que revirava o lixo.

Das minhas andanças no trem lembro-me certa vez que um um camelô que vendia pomada para rachadura, fazia sua propaganda de forma incansável pela manhã. A certa altura foi abordado por outro vendedor que mostrou seus pés feridos e se mostrou bastante interessado pelo produto, mas alegou que não poderia comprar, estava sem dinheiro pois não tinha vendido nada . O outro camelô , prontamente, deu a pomada para seu colega dizendo: “Que é isso colega?! É nos! Tamos juntos! Hoje te ajudo e amanha você ou outro me ajuda! É a vida! Ontem cheguei na estação e como saí atrasado esqueci do dinheiro da passagem e outro camelo me emprestou...Hoje te ajudei... É isso aí...E assim vamos vivendo!”. Uma senhorinha sentada próxima comprou a pomada e ele se foi feliz com a sua primeira venda.

Esse representante do povinho brasileiro na sua simplicidade deu-nos uma lição de vida.

Quem disse que não somos solidários? Somos! Não deixe que este estigma social venha moldar nosso comportamento e determinar nossas ações!

Faça o que estiver ao seu alcance. Formamos uma rede, cada um contribui segundo suas condições. Da cooperação nasce um dos mais nobre sentimento que é o afeto... Trocando é que nos alimentamos, nos tornamos fortes e imbatíveis!

Esse " povinho brasileiro" é melhor do que ele se imagina.

Amo vocês!

Boa semana!