DIA-A-DIA

Diz a lenda que, um dia, perguntaram a Martin Luther (1483/1546) o que faria ele, se viesse a saber que o mundo iria acabar dentro de dois dias. Sem pestanejar, respondeu que plantaria uma macieira.

À primeira vista parece uma insensatez, mas pensando bem é o que de melhor se pode fazer.

As dificuldades da vida já são bastantes para que se perca tempo com conjecturas insanas do tipo da que foi proposta a Luther. Sua resposta, portanto, além de brilhante, demonstra que o melhor posicionamento possível, perante a vida, é o de atitudes práticas com o pé fincado no presente. O hoje é o que importa.

Todos sabemos que o passado passou, ora, que obviedade, mas muitos perdem tempo imersos nele. Viver o passado é como parar no tempo, deixar de ser ou qualquer coisa parecida. Olhar para trás, inclusive, nos transforma em estátuas de sal. Nada mais antigo. Todos nós já deveríamos estar carecas de saber disso. Já outros, muitos por sinal, perdem seu tempo imaginando as mais diversas questões sob ângulos nada saudáveis, exclamando constantemente: “mas e se...”. Com isso, também, deixam de viver o dia-a-dia, não produzindo a contento, nem desfrutando do que os cerca. Das pessoas e das coisas.

É certo que a correria desta vida, dita “moderna”, nos atordoa com seus infindáveis compromissos e as pseudo-necessidades de consumo nos cegam para os detalhes que nos cercam. As pessoas não se apercebem, mas em vez de saborear, chegam a “beber” a comida ou derramam o vinho goela abaixo. Com isso comprometem a saúde física e mental. Afirmo isso com a sabedoria dos sobreviventes, cuja experiência é vista pelos demais apenas “como um automóvel com os faróis virados para trás”, como dizia Pedro Nava. Não se trata disso, basta olhar em volta e ver pessoas com sobrepeso, extenuadas, irritadas, neuróticas e infelizes. A era do “Fast-food” que o diga, como bem nos mostrou o filme/documentário “Super Size Me” de Morgan Spurlock (2004), que certamente vale à pena ser visto com a atenção devida.

Diagnosticar é fácil, dizem uns, criticar então... arrematam outros, mas o fato é que a vida só vale à pena ser vivida se pudermos contribuir positivamente para o mundo que nos cerca. Mesmo que só em família, ainda que não para toda a comunidade. E isto só podemos fazer se estamos de bem com ela (a vida) e com o mundo ao redor. Todas as dificuldades são amenizadas quando o olhar que se lhes lança está sob a ótica do otimismo, das atitudes e dos resultados práticos, vivendo o presente.

Para os que gostam de filosofar, a língua portuguesa fornece farto material e eu diria que não é à toa que o dia em que estamos se chama “presente”. Se Deus, em sua infinita sabedoria, nos deu este “presente”, aproveitemo-lo da forma mais saudável e positiva possível.

Quanto à Martin Luther, aquele homem tinha Fé. E foi com sua Fé que ele mudou o mundo para melhor. Isto é inegável.