Diabo infeliz

Olha minha cabeça de novo zunindo atrás de paranóia pelas paredes. Não, desta vez, pelo telhado. Seu silêncio me engorda, mas estou engolindo. Estou engolindo você e a digestão é difícil. Não estou preparado pra isso. Nem vai nem vem nem vai. Está tudo certo. Acho que você me odeia quase tanto quanto me amava a dois anos atrás. Hoje você ainda me ama, me ama mais do que antes, mas também me odeia, o que vem a dar numa coisa parecida e por isso me sinto estagnado. Sinto que você não vai mais pra canto nenhum e também não sei se vou em você. Mas sinto vontade. Não gosto de olhar pra realidade porque me causa desconforto estético. Não nescessariamente feio mas desajeitado. Meio passado sabe, meio uma coisa não conversa com outra, decisão daqui não soube da de lá e cada qual até trabalha pelo seu melhor, mas o todo... Não, então me cabe propor o novo?! Mas não sei de onde tirar um impulso lógico e raciocínio. Vamos colocar em panos limpos essa verdade de merda: ninguém nunca criou nada. tudo imita aquilo que imita aquilo que imita e eu não vou ser o primeiro iluminado, não sou narcisista. Não assim. Pois agora me diga o que fazer. Por favor, me diga. Porque acho que sou muito bom em obedecer, e me odeio por isso, mas sou muito bom. Me diga, me diga ou não me diga. Eu permito seu silêncio. Eu acato seu silêncio. Eu mereço seu silêncio.

Não vou sair daqui agora... Não vou mudar de forma subtamente, não vou dar choque em nada. Eu sei, é decepcionante. Tudo quanto mais vejo é decepção. Sempre a um passo de ser algo realmente bom. Mas isto aqui já não é bom? Os espaços entre as ruínas, o olhar para os grãos de decisões, amassar o pão das decisões, passar manteiga no pão das decisões? Pão com manteiga de novo. No café, no lanche e na janta. E é pra agradecer. Pão com manteiga, pão com manteiga, pão com manteiga, grão de pão. Diabo réi infeliz mah. Vou deixar de comer pão quando puder comer coisa melhor. Quando puder decidir melhor, ou tiver outras opções que não sejam tão secas quanto as destes grãos. E já chega.

Nia Ferreira
Enviado por Nia Ferreira em 20/02/2023
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