A dor que eu só conhecia pelo dizer do outro

Durante muito tempo ouvi, por complacência ou ofício, pessoas com queixas de aperto no peito. Relatos variantes sobre o sentir o coração a se queimar, sentir uma tristeza sem a referência exata do motivo. Ouvi coisas como de uma vontade de choro sem razão para nomear.

Também ouvi coisas mais exatas, de gente a citar e citar as causas da dor interna. E ainda que não parecesse tão grave, bastando mudar a rota dos pensamentos, nada que se orientasse fazia findar o sofrimento.

Durante muito tempo ouvi e tentei entender. Busquei conhecer setas, direções e ferramentas para ensinar outrem em desesperança a temperança e os meios para suportar os padecimentos de uma mente e um coração em descompasso com a leveza e felicidade.

Agora, quase aos 40, conheço por mim mesmo sensações análogas. Impressionante como descrições conceituadas em aperto no peito, queimando por dentro, abafamento e afins parecem sim os mais próximos do que conseguimos nomear. De um bom tempo para cá, com oscilações, sinto em mim todas essas descrições em suas indicações abstratas ou fisiológicas. E acrescento, que a sensação é de que meu coração e minha mente tenham ficado grandes demais para este corpo lento e cansado e essa alma inquieta e ao mesmo tempo preguiçosa.

Durante muito tempo apontei caminhos e direções, e agora, busco ou espero desesperadamente setas a indicar um rumo, lugar ou fórmula para aliviar essa dor que habita em meu ser.

Obs.: não é autobiografia.