Eu vou fumando a vida.

Um cigarro acesso, uma tragada. Meu lado racional me critica cada vez que acendo o cigarro da vez.

Um vento frio percorre a sala e a fumaça se dissipa atravessando meu rosto. Duas fumaças distintas, uma alcança meus pulmões e a outra me faz lacrimejar os olhos. Meus olhos de poucas rugas que comunicam meus 33 anos.

Esse ato mecânico de tragar e soltar, não o cigarro, mas a vida, tem me levado a experienciar amores e dores que, em geral, caminham juntos, um desdenhoso do outro.

Meu pouco movimento do braço lembram-me constantemente que pode-se viver com dor, mas é preciso que ela dê tréguas porque mesmo o mais cruel dos carrascos cansa o braço depois de repetidos açoites disparados.

Tragada. Fumaça.

Passo no passado, voo ao futuro e é tudo muito inútil. Estar mesmo de fato é no presente e a fumaça e a vida entram e saem de mim, uma porque quero, outra a despeito de minha vontade. Repasso pensamentos sobre a fragilidade de estar vivo e fracasso mesmo me esforçando muito para sentir tristeza.

Tragada....

Fumaça.

Baforada de pensamento puxado e volto cinco, seis anos no tempo...faço isso várias vezes ao dia...espero curioso se um dia chegar o fim desse flashback involuntário...sou feliz ...eu acho lá nos cinco ou seis anos passados...me olho com cuidado nessa felicidade antiga e de relance encontro o meu eu desamparado e descuidado também a sentir tristeza. Entendo nas tragadas passadas que eu dei na vida, traguei ambos, tristezas e alegrias, como as faces de uma folha de papel, um lado atrelado ao outro. Assim eu escancaro meu próprio devaneio de felicidade pura e me dou conta de que até aqui eu tenho fumado a vida, e nas vezes que meus olhos marejaram eu não estava unicamente triste...eu só estava vivo.