BURACO DO QUINTAL

Muitos devem se lembrar que as casas de antigamente tinham quintais.

Limitados por muros ou cercas esses espaços eram os locais preferidos das crianças para as brincadeiras que em verdade eram a preparação para a vida adulta, onde prontidão e habilidade são, ou eram, requisitos essenciais.

Nesses espaços, conviviam em harmonia, galinheiro, cacimba, chiqueiro para porcos, tanque para lavagem de roupas sujas, balanço de corda pendentes dos galhos das fruteiras, hortas e formigas, daquelas que quando ferroam o infeliz desavisado se enroscam, talvez para serem mais eficientes na liberação do ácido fórmico que causa dor lancinante.

Na maioria desses quintais havia, lá no fundão, um buraco onde era colocado o lixo que se produzia, tudo aquilo que não tivesse sido aproveitado por porcos ou galinhas, cascas e caroços de frutas, cascas de ovos, ossos, sobras da horta, cinzas do fogão que geralmente queimavam lenha, galhos e folhas destacadas das árvores.

Periodicamente, passava-se o ciscador por todo o terreno e os detritos iam para dentro do buraco. Também se ateava fogo em tudo que ali estava acumulado a fim prolongar seu tempo de utilidade. Quando atingia o limite, fechava-se esse buraco e abria-se outro para dar início a um novo ciclo.

Tal costume tinha dois objetivos principais, suprir a deficiência das prefeituras na coleta de lixo e reciclar a matéria orgânica fazendo com que a terra adubada resultante do processo fosse de tal forma benéfica aos vegetais que se o cabra cuspisse no chão, era capaz de nascer um pé de língua...

GLOSSÁRIO.

Ácido fórmico = metanoico

Cacimba = poço

Ciscador = ancinho

Terra adubada = substrato rico em nutrientes de fácil absorção, humos