O reencontro

Vivi, como se travasse batalhas

Rasguei minha carne, no grito da navalha mais afiada

Suportei, a lentidão da jornada almejando a cura das pútridas chagas, do gosto metálico do sangue, desses amores que matam tantas e tantas vezes

Ah suportei...

Madrugadas medonhas dedicadas à insônia

Que me maltratava em lágrimas,

Me afoguei eu meu copioso pranto

Desci ao mais horrendo abismo que eu mesma criei

Entre farrapos e sobras de vida me alimentei

Em meu entorpecido renhido, minh'alma ouvia ao longe um bramido, à espreita de mim, arranhando as paredes, esmurrando as portas da minha escuridão, um lume adentrando as frestas desta dor funesta, da lápide de todos os sentires, acreditava eu já ter morrido

Embora em tom solene, sentia a vida pulsar, mesmo morrendo em cada esquina dos meus dias esquecidos

Mas voltei do limbo,

por sob a névoa de um espírito angustiado,

me vi ao longe abandonando o velho caminho

Desse umbral maldito que fizeste-me cárcere, esses amores desmedidos, amores que arrancam-nos tudo, arrancam-nos até mesmo dos olhos, o brilho,

amores que dividem a alma, que sangram,

que matam, que sutilmente vão subtraindo

Renasci, reencontro-me comigo todos os dias

Nessa estória tão minha, de tantas feridas

Minhas linhas ainda escrevem destemidas

Novas asas eu criei, mesmo voando sozinha.

Maria Mística, Heterônimo de

Andreia O. Marques