NÔMADES E IRRACIONAIS (uma crônica de Natal)

Você, caro leitor, já deve ter ido várias vezes às compras nesta época do ano. Certamente se rejubilou ou blasfemou, dependendo do tempo que levou para estacionar o carro ou esperar a condução. Como este não costuma ser o único problema a se enfrentar, deve ter dedicado muitas horas para este evento em sua agenda. A primeira das providências costuma ser a famigerada lista, que por si só já havia consumido boa parte das suas horas livres nos dias anteriores à sua saída. Muitas pessoas possuem estratégias, desenvolvidas à custa de muito esforço mental e tempo perdido. Estratégias estas, geralmente não passíveis de serem compartilhadas com os seus semelhantes.

Nestas ocasiões, as mulheres preferem os (as) cúmplices, formando verdadeiras quadrilhas, na busca do sucesso que é ter todos os presentes devidamente embrulhados e etiquetados, pelo menos meia hora antes de sua distribuição. Estafante. Já os homens se valem de secretárias, compras “on line” e outros estratagemas, dentre os quais o mais comum é pedir para que algum membro feminino do clã se encarregue do assunto.

Recentemente li uma pesquisa cuja afirmação mais contundente era que os homens não ligam a mínima para esta etapa do evento natalino. Pouco tempo depois nem se lembram do que foi que deram a alguém e o mais comum é que nem sabem o que estão dando, quando o fazem. Uma outra pesquisa, resultado do desperdício de muitas horas, feita por professores desocupados, em uma Universidade americana, concluiu que quando uma pessoa presenteia seus animais de estimação, que obviamente não retribuem, sente um prazer semelhante ao de presentear um humano de sua família ou circulo de amigos. Muito esclarecedor e, sobretudo, fundamental para o desenvolvimento da sociedade como um todo.

As compras de natal fazem com que imensas quantidades de pessoas se desloquem de um quadrante a outro das cidades para escarafunchar os shoppings e as ruas de comércio, atrás de descontos, prestações infindáveis e pechinchas. Muitas das vezes as prestações ainda fazem parte do orçamento quando outras tantas, a mesmo título, se juntam às primeiras. E, assim, perpetuam o espírito natalino de um ano para o outro. Nada mais irracional, quando com um bolo feito em casa, um afetuoso abraço ou uma bela carta, pode-se exprimir todo o amor e a importância que as pessoas queridas têm para nós.

Nesta época sempre me lembro de John Lennon, não só pela data de aniversário de seu brutal assassinato (8/12) mas por uma belíssima canção que escreveu: “Merry Christmas”, cuja letra é quase um resumo de seu pensamento pacifista, além de trazer em seu bojo a pergunta no bom estilo punhalada, que John sabia fazer como ninguém: “então é natal... e o que você tem feito?”

Feliz Natal e Próspero ano novo a todos.