TÉDIO DE UM DOMINGO MÁGICO

Acordei assustado após um pesadelo repleto de referências estranhas e rompantes humanos de indesejáveis sensações pueris de outros tempos. Estava absorto com a ideia de não conseguir alcançar o propenso contorno de minha própria emoção, virando vítima dos acasos subsequentes. É lastimável não entender como alguém igual a mim deva atribuir ao universo atitudes humanas tão palpáveis. Não que eu não compreenda o universo na sua propriedade de fato, nem também significa desapegar da minha mente a sincronia que há nesses sonhos tão reais, mas busco entender a lógica dessa agonia interna advinda num dia tão tedioso quanto o dia de domingo.

Hoje é um dia de domingo qualquer, tão monótono e entediante quanto fora outros domingos. Mas, ainda que em uma linha tênue de monotonia e do fastio semanal, reiterei toda essa inócua vivência com pedaços preciosos de tempo útil: Leitura e memória. A leitura veio até mim através de alguns textos acadêmicos, na busca incompreensível de saber sobre as estruturas de composição de determinada pesquisa, enquanto a memória me veio através do entretenimento de uma série de televisão que via na minha infância em televisão aberta. Voltei aos meus oito anos num piscar de segundos. Voltei a ser criança, o que fez desse domingo algo mágico.

São as pequenas coisas que transcendem nosso estado de espírito. Eu não diria que tenha transcendido, mas mordisquei o fruto adocicado da lembrança. Lembrei do feijão tropeiro que minha mãe fazia ritualisticamente nos finais de semana, sempre acompanhado por alguma carne frita, geralmente de peixe. Hoje já mudamos esse hábito e não comemos mais isso. As coisas mudam e os hábitos não ficam imunes a elas. Logo depois, ao voltar nessas lembranças, senti certa saudade inexplicável. Provavelmente seja explicável, entretanto, faz-me muito esforço ter que exercitar novamente essas conexões.

Dormi após o almoço, coisa que não fazia há semanas. Nossa, que coisa tão pequena, mas ao mesmo tempo tão significativa. Consegui descansar a mente fatigada por algumas pequenas horas. Talvez não tenha sido um domingo tão tipicamente dominical assim, afinal de contas. Ainda escrevo dentro desse dia tedioso, na esperança teimosa de que outros domingos sejam tão repletos de significados quanto esse, para de alguma maneira, aliviar minhas inquietações. Era para apenas ser o dia do nada, do ócio. Foi maior do que eu imaginava; quem diria.

Hivton Almeida
Enviado por Hivton Almeida em 12/03/2023
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