E O CORREIO NÃO PASSA

Fiz minhas encomendas à livraria. Pela internet. Pedi dois livros que quero tanto ler. Faz uma quinzena que os espero. Normalmente o carteiro para a moto no meu portão. E me chama para completar o seu trabalho de entrega.

Moro nesta pequena cidade há algum tempo. E tudo aqui é sempre muito tranquilo. Todo mês o correio traz os livros que peço no início do mês.

Penso, que desta vez, pode ter ocorrido um extravio. Mas, como sou otimista, olho a folhinha. Ainda não terminou o mês, mesmo não. Meus lábios dizem:

- Deus é grande, hão de chegar os livros.

Eu começo a prestar a atenção em outras coisas. Tenho outras coisas para fazer. Hoje ainda. Então sento-me à mesa de trabalho. Com papel e caneta, e ponho-me a escrever. Uma das dificuldades do escrever é dizer ao outro que estou trabalhando.

Mas, ora, deixemos isto de lado. Escrever é como dizia o poeta, lutar com as palavras.

Eu sigo, em primeiro lugar, um conselho:

- Fuja das palavras difíceis, meu filho!

Quem me disse isso, foi minha mãe. No entanto, há outras dificuldades em construir um texto. Não interessa, vou me virando, escravo de verbos que sou.

E, neste me virar, sou um trabalhador. Conversando com um amigo, ele me contou:

- Quando iniciei no meu ofício, o chefe me disse: "se vira".

Cheguei até aqui, um sorriso se esboça em meus lábios. Porque há irmandade, para mim, entre os escribas e os trabalhadores. Ora, e isso não é poesia?

E o correio não passa. Já escrevi este texto, o correio há de passar. Tenho mais coisas a fazer.

Aristides Dornas Júnior
Enviado por Aristides Dornas Júnior em 16/03/2023
Código do texto: T7741509
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