Quando eu morrer

Não quero ser enterrada e ficar debaixo da terra enquanto todos choram e me levam flores. Flores vermelhas, flores rosa, amarelas e brancas. As flores que não recebi em vida não me remetem na morte. Qual a função das flores? Deixar a morte mais bonita? Porque em vida é fácil responder isso.

E se eu morrer antes de você, por favor, não quero visitas, ou seja, pode cremar. Para que visitar mortos? Guarde sua cota de visitas para quando estiver diante de você, caso contrário à missa de 7º dia basta. E outra, é uma forma de ter certeza que não vou levantar.

E junto com as minhas cinzas deixo também os sonhos e as vontades que eu não consegui realizar, são por eles que choramos quando alguém morre. Pelos planos que não concretizamos, no fim, choramos pelo que não vivemos.

Por isso, é melhor deixar registrado tudo o que eu quero realizar em vida. Minha concepção de família ficou mais evidente nos últimos meses, e estando em 2007 eu continuo tradicional como 1930: namorar, noivar, casar, criar cachorros de rua e ter filhos. Pois é, todos buscam ser felizes e esse, é o maior desafio do ser humano. Ser feliz de cima e olhar o debaixo, ser feliz estando embaixo querendo estar em cima.

Assim, do mesmo jeito que diz a biologia: nascer, crescer, reproduzir, envelhecer e morrer. Pode ser alguém com os mesmos sonhos, pode ser pobre, mas rico em humor e estar bem resolvido com a vida. O que menos importa é quem será, mas como e quão especial será...

Queria ainda conseguir abraçar o mundo e ser amiga do tempo, assim faria tudo o que eu mais tenho vontade. Tomaria coragem de olhar para alguém e dizer que realmente amo, só para ter certeza que deixei registrado, viajaria pelas belezas naturais mais escondidas, faria as loucuras mais encurraladas que existem dentro de mim, ainda faria coisas bobas como 3 faculdades que me atraem sem me sentir velha para isso, criaria cavalos, teria vacas no meu quintal, moraria de fundo para montanhas, conviveria mais com animais do que com as pessoas, teria muitos filhos mas não desejaria que eles crescessem, cuidaria mais da natureza do que da vida das outras pessoas, plantaria meu próprio sustento, trabalharia para me realizar e não pelo salário, mandaria quem não consegue ter um ato de gentileza para onde você está pensando mesmo e quem sabe viveria alguns dias sozinha...

Mas antes de morrer quero poder ao menos viver de acordo com minhas convicções sem ser invadida, não me conformar com uma única conquista porque nessa minha vida eu estou de férias e nem com mais 100 anos não faria tudo o que tenho vontade, uma vida é muito pouco para viver e morrer, pior ainda é não saber quando, se eu soubesse faria tudo mais depressa. E ainda não pediria adicional para hora extra...

Talita Palmieri
Enviado por Talita Palmieri em 11/12/2007
Código do texto: T774183
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