as velas que choram por mim

às vezes vazio de uma prece que só o silêncio é capaz de preencher, me enfrento frente a chama da vela acesa. como pode querer que eu reze por ti se hoje ainda é quarta-feira? o pavio está curto. não o meu, o da vela. mas o meu talvez esteja também. não sei. o fogo rouba minha atenção, assim como rouba o oxigênio do cômodo. tudo em completa sutileza. me emociono com a chama enquanto ela dança. me emociono com a possibilidade de que tudo queime, afinal o fim é tão próximo. da vela, claro. penso em como tudo se ilumina no mesmo instante que a cera derrete sobre si mesma; no mesmo instante que eu me debruço sobre mim mesmo. choraria durante toda essa cerimônia que cria e destrói. mas hoje as velas que choram por mim.