CALENDÁRIO

Eu continuo respirando para controlar a ansiedade que de tempos em tempos afeta todo o meu ser. Não é à toa que ao passar dos setenta anos, muito bem vividos, a ansiedade e a depressão deem os ares de suas graças.

Afinal das contas, a vida em determinadas hora, é o mesmo que acender uma vela na escuridão e não ter sinal de que a claridade virá, porém o pavio da vela está pequeno e a claridade não virá. Mas como fazer se o pavio da vela mostra que está no fim...

Quando eu lembro que ainda não tive tempo para arrancar os dias do meu calendário, deste ano, e já estamos caminhando para o fim de março, não há cristão que não fique ansioso.

No entanto quando eu penso que tudo o que planejei para este ano ainda não começou a ser colocado em prática, pois eu quero viajar, e nem decidi para onde ir. Tenho contas pra pagar e muitas vezes o dinheiro não é suficiente, porque sempre alguém também precisa que eu lhe ajude. Além do mais vivo numa tensão pré-parto, para uma criança que promete entrar em minha vida. Mas é um assunto que ainda não estou preparado para falar...

Enquanto isto o tempo corre célere, tão célere que tem horas que não sei onde estão minhas coisas, sem em São Paulo ou no Rio Grande do Sul. Estas coisas e dúvidas só os amigos mais próximos conseguirão entender.

Deixei de estar rodeado por amigos como nos tempos de faculdade, tudo era diversão e festa. Hoje ninguém tem mais tempo e o que mais sobra é tempo em nossas vidas. Algumas vezes desperdiçado com bobagens ou coisas pequenas. Naquela época a gente queria tirar boas notas para sair da faculdade e arrumar um bom emprego. Tudo isto passou e hoje alguns só se preocupam com as doenças que têm e os remédios que tomam. Deixamos de viver, de sorrir, de brincar, de jogar conversa fora. E, há ainda os que entraram na onda da polarização política como se fossemos o “Cristo” entre o bandido da direita e o bandido da esquerda. Uma grande maioria passou a brigar com a família, cegos por um político. E, como sabemos, em política não existe santo.

Com o passar dos tempos começamos a viver o hoje porque o amanhã já pode ter chegado e nós não vimos.

Enquanto isto filhos e parentes vivem suas vidas e nem lembram que existimos. Muitos até pensam que já vivemos mais do que devíamos. Isto é uma regra na maioria dos seres humanos. No entanto só nós mesmos para entender que ainda temos uma vida pela frente, mesmo que esta vida não seja tão longa quanto às vezes pensamos.

Enquanto isto sigo sentado numa cadeira, lendo um bom livro, tendo aos meus pés um gato que só falta falar, dizendo em gestos: “eu preciso de você” quando a luz se apaga e filhos, netos e amigos somem na escuridão da nossa vida...

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23.03.23

MÁRIO FEIJÓ
Enviado por MÁRIO FEIJÓ em 23/03/2023
Reeditado em 23/03/2023
Código do texto: T7747090
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