Matutino

Tenho hábitos matinais, creio que todos tenham. O meu é, ao despertar, dedicar um pouco dos ouvidos aos pássaros, tentar entendê-los, sem êxito, mas contentar-me. Aprendo que nem tudo precisa ser compreendido para fazer sentido.

Depois de arduamente levantar, dedico um punhado de tempo à minha gata, dou bom dia e ela retruca com miados diversos e carinhosos, que também não entendo, mas sinto, o que é mais importante. Com ela aprendo que a linguagem do amor é universal, todos entendem.

Após, me dirijo às plantas, miro todas elas. Nos jardins, encontro as mais valorosas lições, seja na flor ou no mato. Todos têm seu papel essencial. O mato é a escola da persistência, ainda que o arranque, se sobrar um fiapo de raiz, em breve estará lá de novo, firme e forte. Alguns mesmo com a raiz arrancada ainda vivem! Seja uma pessoa mato. As flores dizem muito sobre a essência da beleza, fugaz mas inesquecível. Crie momentos flor.

A natureza não indaga sobre o tempo, ela vive sem se importar com o ontem e o amanhã, apenas segue seu rumo sem porquês, apostando no inquieto presente. Após dialogar com o divino ali naquele jardim, volto-me ao mundo material, também com suas deliciosidades. Uma das minhas prediletas exala aromas gostosos como uma rosa, o café. Café se bebe primeiro com as narinas, depois com os olhos, depois com os lábios e com a lembrança. Enfim, amanheço.