SOBRETUDO DE VIDA, SOBRETUDO

Oh! saudades eu não tenho

Da aurora da minha vida.

A minha infância foi sofrida,

Tive momentos infernais!

Via meu pai chegando da lida

Cansado, suor no rosto...

Trazendo apenas no bolso

Alguns centavos irreais!

Ah! só me lembro da comida,

Da carne torrada na tacha,

Eu comia farinha na “graxa”

Em porções descomunais!

Eu fazia minhas travessuras,

Mãe ralhava do que eu fazia,

Dos coitos, das sodomias

Com colegas e com animais!

Mas que aurora, que nada!

Só quedas, a cara rachada,

Puxões de orelha, topadas,

Incompreensões dos meus pais!

Oh! que dias da minha infância!

"Pés descalços", pinto de fora,

Não senti a brisa da aurora

Nem a sombra dos laranjais!

Digo-vos, não tive amores,

Só tive sonhos, tive dores,

Resquícios, algumas flores,

De nada me lembro mais!

TEXTO INTERATIVO:

MEUS OITO ANOS

Oh! que saudades que eu tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais !

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais !

Como são belos os dias

Do despontar da existência !

– Respira a alma inocência

Como perfumes a flor;

O mar é – lago sereno,

O céu – um manto azulado,

O mundo – um sonho dourado,

A vida – um hino d’amor !

Que auroras, que sol, que vida,

Que noites de melodia

Naquela doce alegria,

Naquele ingênuo folgar !

O céu bordado d’estrelas,

A terra de aromas cheia,

As ondas beijando a areia

E a lua beijando o mar !

Oh ! dias de minha infância !

Oh ! meu céu de primavera !

Que doce a vida não era

Nessa risonha manhã!

Em vez de mágoas de agora,

Eu tinha nessas delícias

De minha mãe as carícias

E beijos de minha irmã !

Livre filho das montanhas,

Eu ia bem satisfeito,

De camisa aberta ao peito,

– Pés descalços, braços nus –

Correndo pelas campinas

À roda das cachoeiras,

Atrás das asas ligeiras

Das borboletas azuis !

Naqueles tempos ditosos

Ia colher as pitangas,

Trepava a tirar as mangas,

Brincava à beira do mar;

Rezava às Ave-Marias,

Achava o céu sempre lindo,

Adormecia sorrindo,

E despertava a cantar !

Oh ! que saudades que eu tenho

Da aurora da minha vida

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais !

– Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais !

Autor: Casimiro de Abreu foi um poeta brasileiro, autor da obra MEUS OITO ANOS, um dos poemas mais populares da literatura brasileira.

Francisco Ohannah Oleanna Osannah Galdino
Enviado por Francisco Ohannah Oleanna Osannah Galdino em 28/03/2023
Código do texto: T7750846
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