O maior elogio

O maior elogio.

Mateus 5, 9

Final do século XX, ano 2000, eu trabalhava em Propriá, cidade sergipana, à direita do Rio São Francisco.

Todos nós somos vitrines. Somos, não somente observados, como. milimetricamente, radiografados por olhares biônicos. Ininterruptamente, todas as horas do dia, sem contar com as câmeras fas ruas. Nada passa despercibido neste orbis "κόσμος".

Assim, foi que numa sexta-feira, no restaurante da empresa, um colega perguntou-me se eu não comia carne naquele dia. Respondi que por estamos na quaresma, eu evitava, sempre que me lembrava. Por isso, eu passava as minhas "misturas" pra ele, ou para outro trabalhador.

Era verdade que aquela era uma regra minha. A Igreja recomendava o jejuns de carnes apenas na quarta-feira de cinzas e na sexta-feira da paixão. Ainda assim, para um grupo de pessoas em determinada faixa etária, excetuando-se as prescrições médicas. Falei isso e me surpreendi com sua reposta:

- Minha mãe não come carnes em sexta-feira alguma do ano!

Isso só serviu para me mostrar quão ínfimo era meu pretenso sacrifício.

Um dia, noutra sexta-feira, chegamos atrasados para o almoço em decorrência da urgência e excesso de trabalho. Já tinha passado das 13 horas e nós, eu, especialmente, estava varado de fome. As marmitexes, ou quentinhas estavam separadas, adequadamente à nossa espera. Quando abri a minha, senti como se a tivessem feito de caso pensado: bisteca suína e linguiça calabresa douradas, suculentas, especialmente, para estômagos vazios, era um banquete. Nisso, ouvi o sino do alarme do subconsciente tocar: Hoje é sexta-feira…hoje é sexta-feira…Senti como se eu estivesse sendo posto à prova.

Fechei, paulatinamente, a marmita, ao mesmo tempo em que me lembrei de uma família de retirantes acampados na Praça João Fernandes de Brito, mais conhecida como Praça Estrela. Eram marido, mulher e pelo menos um casal de filhos de três e quatro anos aproximadamente.

Eu passava por lá quatro vezes por dia e dessa vez, o garotinho brincava com a irmã, quando o chamei e disse-lhe ao entregar a sacola:

- Garoto, cuidado para não cair, entregue a sua mãe.

O pai, que eu não via, estava do outro lado da praça observando-me quando chamei o menino e de lá mesmo, levantando a mão espalmadas, disse-me:

- Obrigado, filho de Deus!

Ele, decerto, não sabia o que eu tinha doado, mas eu sabia com extrema segurança, o quê eu recebera de volta.

"Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus".

Certamente, não receberei outro elogio, ou agradecimento tão marcante, ainda que imerecidamente!

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O Poeta Helenilson Martins brindou-me com essa participação. Pelo que fico agradecido.

Os protagonistas da existência

Foram aqueles que se doaram

E com os frutos do seu suor

A humanidade melhoraram

por agregar na visa dos povos

É que eles hoje são lembrados.

Para o texto: O maior elogio