A chamada

O dia seguiu normalmente, estudo à tarde e a minha escola não é tão longe assim, prefiro ir com minhas amigas, mas às vezes elas faltam ou vão com os pais e eu fico no vácuo. Dois dias por semana, minha mãe disse que me traria para a escola, sabe como é promessa de adulto... até a primeira coisa “importante” acontecer e aquele monte de desculpas seguido de: “vá com suas amigas”.

Eu disse normalmente, que nada. Está difícil aguentar tudo isso. A sala não está legal, é um entra e sai de alunos que nem são da nossa classe... ”falta de professor” é assim que o inspetor fala e lá põe uns meninos que não tem nada a ver. Só que nem sempre é ruim, porque tenho amigas do ano passado que mudaram de classe e eu converso com elas quando ficam na minha sala.

Pois é, como dizia... está difícil aguentar essa pressão, esse medo de que algo ruim possa acontecer. Nos stories, só vejo as notícias do que vem acontecendo nas escolas e nem acredito, será que estamos em guerra e ninguém me contou?

Passei a maior barra, deu ruim. No ano passado, com as piadas sobre minha foto de perfil e umas postagens que fiz no Insta, foi "punk" ter de ouvir aquelas piadas do K. seguidas das risadinhas dos “colegas” , tá bem, eu não sou nenhuma santa, mas paro se estou pegando pesado ou se o clima não fica legal, eu paro, juro que paro.

Minha professora de Português, falou de um tal verbete do presente. Que pode significar: comparecer, o momento atual ou um agrado.Isso não dá para esquecer, é que ainda está na lousa e a chamada corre a mil: Maicon? Presente. Maíra? Presente. Maria? Maria?

_ Ah? Tô aqui, quero dizer: Presente!

Puxa! Viajei no momento...

O que aconteceria se tanta gente que está envolvida em briga, bullying, perseguição só pudesse ser tratada pelo nome, se pudesse ter a sua vez de falar e não ser tratada diferente pelos outros, se não tivesse medo de ser ouvida pelos colegas de sala, talvez ela pudesse responder: "presente", com a ideia de que estar ali não fosse uma obrigação, nem um risco...pelo contrário fosse legal, fosse divertido, fosse um presente.

A chamada já acabou, mas eu ainda estou pensando.