Lançando cargas ao mar

Devemos lançar ao mar toda a carga que nos impeça de navegar com rapidez e confiança. Para que tanto peso em forma de amarguras, rancores, disputas? A lei da gravidade por si só já se incumbe de nos atrair para o centro da Terra, não precisa de ajuda. Nossas responsabilidades são tantas que acho que deveríamos analisar se é benéfico para nós ou ao outro gastar energia e recursos envolvendo-se em um problema novo (se não for inevitável). Claro que sei que certas situações arrastam-nos e subitamente encontramo-nos no olho do furacão ou entre duas placas tectônicas a nos sacudirem as estruturas. Contudo também sei que alguns problemas podem ser evitados caso a gente aprenda a se esquivar deles como no jogo de capoeira. Esquiva é defesa na capoeira e na vida, é o famoso “jogo de cintura” necessário à sobrevivência.

A avaliação do que merece a nossa atenção não é algo simples e se há emoção envolvida já é um passo para o cadafalso, a avaliação está viciada. Exageros à parte, nossa vida é muito curta para que a gente não a curta! Curtimos viver para ter uma história interessante para contar sobre os amigos que fizemos, os amores que tivemos e os lugares que conhecemos, além de irmos nos lapidando pelo caminho, consequência incontornável e até desejável. É um clichê falar que aprendemos algo todos os dias até o último deles, porém é um clichê verdadeiro. Quem não aproveita seus dias vive uma segunda-feira sem fim, todos os dias idênticos e monótonos, sendo certo que o conceito de monotonia é fluido, pois muitos enxergam segurança dentro dela, a mesmice tem um quê de conforto, com cheiro de mofo, mas tem.

Todavia sou a favor de ressignificações constantes para descartar todas as coisas que nos incomodam, que ocupam o espaço no “HD” para ceder “memória” a novidades que agreguem valor. Sim, cargas ao mar para irmos mais longe com menos combustível, conservando somente o que justifique nossa existência e esteja em consonância com nossos projetos. A atitude não recai no egoísmo, muito ao contrário: quem se sente bem reverbera o bem e quem se sente conflitado e incomodado nada terá de positivo a oferecer. Lançar cargas ao mar é libertador, minimalista, prático e chique, seria bom se todos conseguissem agir assim e ser como o pássaro que só precisa de suas asas para ganhar a imensidão.