CAOSÇADÃO

CAOSÇADÃO

Fluxo é incessante no calçadão. Cercados por construções de, em média, 2 andares, circulam gentes de todos os perfis, salvo pela entrada e a saída, ou vice-versa, não há como escapar dos encontros e desencontros com todos os tipos imaginários, sejam de carne e osso, só osso ou muita carne. Transaciona-se de tudo, desde leitura de mãos a bugigangas inúteis de grande utilidade. Há arte sem Rouanet, representada por estátuas vivas, morrendo de fome, tocadores de flautas de pan,vendendo CD´s piratas que ninguém quer, roda de capoeira marcadas a berimbau e negritude e cego tocando sanfona e de ouvido aguçado, para escutar alguma moeda caída em sua mini bacia de alumínio amassado. Pregadores independentes com suas bíblias amarfanhadas, pregam ao léu, buscando, quem sabe, salvar uma alma, uma boquinha no céu ou na Universal. A cada 10 metros estende-se uma mão a pedir ajuda, pelo amor de Deus, trajando trapos, portando crianças mal nutridas, outros, feridas expostas com curativos manchados de sangue, um mar de deficiências e penúrias.

Ciganas esvoaçantes param incautos, lendo mãos, que buscam um lenitivo que apague seus desesperos e desesperanças. De seus bolsos pingam moedas e notas de 2 que compram nada em 1,99(s) já também por si inexistentes.

Lanchonetes suspeitas de espalhar salmonellas vendem sucos aguados e salgadinhos, sabe-se lá com que ingredientes e cuidados na elaboração, mas pouco importa, afastam a fome para dela não morrer, viva a vida apesar de tudo que vem a boca.

Lojas cheias de inutilidades que todo mundo quer, compradores de ouro a derreter, óticas a perder de vista para cataratas ambulantes, consultórios dentários para quase sem dentes, farmácias com ph e uma montanha de lojinhas de acessórios para celulares.

Montanha também de ladrões de celulares, seguranças em cima de caixotes e guardas municipais desfilando com cara de paisagem, loucos para não ser chamados a intervir.

Uma Babel asfixiante, que some a cada por de sol e ressuscita na alvorada, tal como dia e noite, inexorável, em sua desumanidade que se finge tão humana.

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 13/04/2023
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