A IMPORTÂNCIA DE ESTUDAR A HISTÓRIA

JOEL MARINHO

Quando entro em uma sala de aula pela primeira vez ouço sempre a “bocas pequenas” as frases: “Ele é professor de Matemática. Não, deve ser de Física ou Química”.

Quando ouço isso faço mistério e pergunto: Vocês acham que sou professor de Matemática por quê?

E vem uma enxurrada de respostas, cada uma mais sem nexo que a outra, mas eu levo tudo isso numa boa porque quanto seres humanos sempre julgamos as coisas ou as pessoas pelos parâmetros os quais aprendemos como verdades anteriormente, mas sinceramente, até hoje não entendi ainda essa associação.

Então revelo minha “identidade” quanto professor.

Bem, gente, sou professor de História e sejam bem-vindos a essa louca viagem por esse “país” que jamais será acessado por nós no sentido de vivenciarmos o passado, a não ser através dos documentos deixados pelos nossos ancestrais e a escrita dos historiadores que vieram antes de nós e se preocuparam em nos presentear com seus trabalhos.

A segunda pergunta que faço é: Para que estudamos a História, qual a serventia de estudarmos um passado muitas vezes tão distantes de nós? E novamente vem uma enxurrada de respostas em sua maioria sem nenhum nexo, salvo algumas exceções.

Enfim, para início de conversa, somos seres históricos, exclusivos, únicos no planeta a ter essa capacidade de deixar registrada a nossa estadia aqui na terra, seja por fonte oral, escrita, desenho, arte em geral, ou seja, deixamos a nossa marca registrada em algum momento e lugar no espaço e cada registro é um ponto de vivência evolutiva dos seres humanos, um ponto de guia das coisas e ações que deram certo ou errado, ao menos no sentido do que entendemos como certo e errado atualmente, isso para não fazermos julgamentos do passado e cometermos anacronismo.

Logo não estudar a história é caminhar na escuridão da ignorância e correr o risco de cometer os mesmos “pecados” do passado e, infelizmente há tantas pessoas perdidas em meio a essa ignorância atualmente.

Seria tudo tão mais fácil se todos os seres humanos estudassem sobre a atuação do fascismo e todos os regimes totalitários pelo mundo para não cometerem mais nenhuma dessas atrocidades. Não que não iremos mais errar quanto humanidade, todas as gerações no seu tempo cometem erros, porém por entendermos alguns erros anteriores já não era para caminhar por esse sombrio passado.

Sei que a História em si não evita que cometamos os mesmos erros anteriores a nós, porém se observada de forma analítica pode nos servir como parâmetro para buscarmos novas soluções e assim mergulharmos no rio da evolução histórica nos tornando seres bem melhores a cada geração.

No entanto, o que se viu nos últimos anos é um grande retrocesso no sentido histórico e com certeza isso já ocorreu também no caminhar histórico dos humanos, como por exemplo quando os povos bárbaros saíram vencedores e derrubaram a grande Roma. Unidos a Igreja Católica reduziram os conhecimentos na astronomia e mais tarde negaram e até puniram quem por acaso afirmasse que a terra não era plana. No campo da medicina, estudos acumulados desde os mesopotâmios, egípcios, gregos e romanos foram praticamente jogado no lixo histórico e o sofrimento humano se transformaram em grandes catástrofes como o advento da peste bubônica, forçando a própria igreja abrir espaço para a reabertura de estudos nessa área, visto que as orações e rezas se tornaram obsoletas às novas enfermidades nesse reencontro Ocidente/Oriente.

Mas o homem. O homem da ciência lutou contra o pensamento da Igreja e por certo tempo avançou, principalmente nos países que foram se estabelecendo política e economicamente, chamados atualmente de “primeiro mundo”, no entanto, isso não foi suficiente para eliminar esses pensamentos arcaicos até mesmo nos lugares ditos mais avançados em tecnologia.

Atualmente uma onda de negação a História e a Ciência no sentido geral parece caminhar aos moldes do período medieval, haja visto os terraplanistas os quais pregam que a terra é plana.

Ao rasgar e negar a História caímos no buraco negro da ignorância outra vez e somos obrigados a engolir e aceitar “fórmulas mágicas de cura” com orações e rezas, ideias armamentistas para a nossa “segurança”, entre tantas outras baboseiras difundidas por aí.

E essa tara por armas? Já vimos os efeitos práticos disso na Primeira, Segunda Guerra e Guerra Fria, foram milhões de pessoas mortas por conta desses ideais acarretando mais violência para “combater” a violência.

Hoje nos perguntamos atônitos o porquê de os jovens estarem indo armados para a escola e com esse discurso desmedido de ódio. Como assim? Estamos no século 21, já não era tempo de termos subtraído ou eliminado esse ódio doentio apresentado por líderes como Hitler, Mussolini, Pinochet, Stálin, Slobodan, entre outros líderes sanguinários do século 20?

Nossa resposta está tão próximas de nós do século 21, líderes que se tornaram referências para muita gente apresentam essa linha de pensamento negacionista, anticiência, armamentista e com um discurso vazio que seduz muita gente, pois trás nesses discursos frases prontas dando sentido que vai resolver fácil coisas tão complexas da existência humana.

Assim atropelam a ciência e tentam desqualificar o estudo de História por saberem que se a população em sua maioria souber que suas palavras não traduzem verdades isso pode se tornar perigoso para seu intuito maior, materializar-se e manter-se no poder. Infelizmente é muito mais fácil ouvir e acreditar no discurso de ódio a buscar através de várias leituras algumas verdades e formas melhores de se viver em paz.

Temo que esse ódio vença, mas ainda acredito na paz, não a paz plena, mas a paz gradativa por conta das experiências humanas anteriores e por meio do estudo analítico da História.