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Foram 32 anos bem vividos. Uma passagem curta para tantos planos , como formar um filho forte, independente e apto a enfrentar o mundo, acompanhar o crescimento deste filho e permanecer ao lado do homem que amava. Queria ter mais tempo para escrever, para ler, curtir marido e filho, viajar. Queria ter feito novos projetos em seu trabalho. Aproveitar mais o tempo, nem sempre valorizado ou bem utilizado. E, lembrou-se de toda sua vida e sorriu, constatando que nada havia sido em vão. Sentiria saudades, mas sabia que nada acabava com a morte, iria começar outra etapa, e sempre adorou desafios, sempre esperou o novo para torná-lo familiar e acolhedor. E agora não seria diferente.

Mas se a crença em outra vida não passasse de um consolo? Uma manipulação para controlar o comportamento das pessoas? Sorriu mais uma vez, ao constatar que mesmo assim havia valido a pena.

Foi a última coisa que pensou. Depois, olhou para os dois - pai e filho, homem e menino, presente e futuro - sentados em sua cama, respiração tensa, olhos de súplica, tentando disfarçar um choro teimoso. Percebeu o carinho, a aflição. E olhou infinitamente para o azul do céu, destacado pela janela aberta à sua frente, suas pálpebras pesavam...Amo vocês – pensou ter dito, mas eles não a ouviam mais.