Desculpe-me, caro leitor.

Há tempos que não estava por aqui, a rotina de dor e trabalho esmagou a escrita até se transformar em lixo, que escorreu para o esgoto com ajuda das minhas lágrimas...

Mas, cá estou, Pérsio, um homem com sua angústia rotineira. Perdi a noção desse tempo e espaço há dias. Olho para família como que olha para o nada, nem isso me dói, vejo o sorriso de meu pai e de minha mãe, surgirem na minha visão como um filme da vida que o tempo protagoniza e eu sou espectador, que não sente nada. Essa apatia me corrói, queria ter raiva dessa apatia, mas nisso me prezo de sentir. Só não importo e por qual motivo? O que há por trás desse sentimento apático? Eles são os únicos, que nunca desistiram de mim, não importa qual veste uso hoje e qual usarei amanhã, não há importância para eles, só de eu ser quem sou. Aqueles que rodeiam proximamente cabem a distanciar de mim, enquanto sigo com minha cruz em minhas costas e o prato que carrego em minha mão. Sou um erro, eu erro, eu errarei, eu errei, eu estou errando, sou um erro. Na sina de uma luz que surje de uma sarjeta da esquina, me diz que haverá dias melhores, dessa vez estou deixando-a brilhar para eu seguir tal caminho. Fé. Só peço que essa luz nunca deixe de acreditar em mim, estou voltando a acreditar na luz depois de 7 anos.

Fora dessa residência olho para essa rua, que passa a frente de um local que acho que é meu lar, apesar de não saber onde é meu lar, ou o que é um lar. Há várias questões semelhantes, que passam por nossos olhos diariamente e não sabemos responder, ou só achamos, que sabemos responder, pois algum dia alguém já respondeu aquilo por nós. O que é amor? O que é lixo? O que são os sentimentos no sentido mais íntimo da palavra? O que é um chuveiro?

Vamos encontrar só respostas prontas, padrões, metódicas e condicionadas. E aquelas que vem de uma criança? Ou da própria alma? Falando nisso o que é uma alma? Por qual motivo tenho que ter bons modos? Ou até mesmo uma casa? Roupas coloridas? Tatuagens? Um senso de opinião geral?

Por vezes o nada é uma resposta, até para tudo, ou para o nada, falo do nada, já que é meu Ph.D., sobre o nada. Aquilo temos de muito e temos de poucos, o nada.

Caminho até na esquina em busca de mais erros, que cometi até hoje, ou até uma memória do futuro, ou de sentir algo que se esconde em mim, por medo. Chego na esquina e encontro nada, sim, nada. Um pouco de nada, umas rosas das mais graciosas e brilhosas, uma árvore que é mais velha que minhas felicidades e dores, um pouco de tudo e um punhado de formigas trabalhando pelos arredores. Me lembro da fábula da cigarra e as formigas, a natureza sendo a natureza de sua forma intrínseca, destrutiva e passiva. Queria que fosse possível entrar em minha cabeça por alguns momentos, assim algumas pessoas não se chateariam por algumas, fico calado e reflito em demasia desde ver poeticamente a formiga até sobre o polígono de Willis, e alguns que pensam que estou por ter problemas com essa pessoa, mas não se trata disso, só de questões subjetivas a mim. Desculpe-me, meus amigos. Desculpe-me, minha família. Desculpe-me, meu pai. Desculpe-me, minha mãe. Desculpe, minha namorada. Desculpe-me, a luz que ainda brilha. Desculpe-me, meus inimigos. Desculpe-me, minha pessoa. Desculpe-me, quem está a ler. Nesse momento, o sol está em seu fim, o brilho que toca minha pele e me traz o íntimo está quase por fim no dia de hoje, assim como minha escrita...