“VOCÊ SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO?” “ABRE QUE EU SOU AUTORIDADE!”

"VOCÊ SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO?" "ABRE QUE EU SOU AUTORIDADE!"

POR JOEL MARINHO

É sabido por todos nós aptos a raciocinar, estudar e analisar a nossa história que a rota do mundo mudou ao se tratar da relação homem e natureza e diante ao avanço da destruição do meio ambiente precisamos ter mais cuidado não só em preservar o meio físico, a terra, como também todos os seres vivos nele existente para a nossa própria preservação como espécie dependente de toda essa engrenagem da cadeia natural. Diante a isso devemos aplaudir de pé quem luta pela causa dos animais e do meio ambiente mesmo acreditando ser essa batalha de todos nós coletivamente.

Mas até que ponto essa “guerra” é de fato verdadeira no sentido de se ter amor pelos bichos e meio ambiente ou apenas por um like para engajar algum conteúdo pela internet ou assegurar um eleitorado a fim de se manter no poder por mais quatro anos garantindo assim milhares de votos para as próximas eleições?

Isso foi o que se viu nesse domingo, 30 de abril de 2023, uma deputada estadual do estado do Amazonas “ensandecida” e aos “berros” invadindo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), na cidade de Manaus querendo “resgatar” na marra uma capivara que ficou conhecida em todo o Brasil e parte do mundo com o alcance das redes sociais, não falarei especificamente do caso porque já é sabido por todos após veiculação em todas as mídias, impressa, televisiva e online.

Aos gritos a deputada não cansava de se utilizar de um artifício criado socialmente no Brasil muito bem explorado pelo antropólogo Roberto da Matta em seu livro “Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro”, “você sabe com quem está falando?” No caso dela ia até mais distante: “abra que eu sou autoridade, abra que eu sou autoridade!” Esse artifício ficou comumente conhecido como a famosa “carteirada”, quando a pessoa se utiliza do grau de importância social para passar a frente em filas ou ter vários outros privilégios. Assim ela utilizou isso em um ato de “heroísmo” o qual fez questão de mostrar ao vido em redes sociais reafirmando ainda mais o meu argumento de sua autopromoção eleitoral fora do período de eleição.

Se já havia uma ordem judicial para a liberação da Filó precisaria de todo aquele escarcéu mesmo só para mostrar o ego inflamado de autoridade?

Frente a uma autoridade de nível hierárquico maior os guardas do instituto nada ou pouco puderam fazer para impedir a ação de vossa excelência, ainda mais acompanhada pelas redes sociais com a vibração de milhares de pessoas para que a famosa capivara Filó voltasse ao seu lar com o Agenor, inclusive eu estava também torcendo para essa volta, visto que mesmo não sendo o correto um animal silvestre estar em contato direto com os humanos aquela em específico já não se adaptaria mais em um espaço longe daquele ao qual já estava habituada, logo seria uma presa muito fácil para onças e até caçadores sedentos por carne de capivaras.

Enfim, Filomena voltou de onde nunca deveria ter saído, mas o que está em jogo aqui não é a volta em si da Filó e sim a forma como essa autoridade se reporta as outras autoridades ali presentes. Fiquei imaginando qual teria sido a reação dos guardas caso qualquer outra pessoa desconhecida tentasse invadir o órgão para pegar na marra seu animal que foi subtraído pelo IBAMA em alguma ação em situação semelhante? Melhor nem imaginar, mas invasão a órgão público federal a punição é no mínimo rígida e com razão, basta observar as pessoas que invadiram o congresso nacional em 8 de janeiro, grande parte ainda está presa, outras em prisão domiciliar.

No entanto, mais uma vez o “você sabe com quem está falando?” funcionou muito bem e tudo acabou “bem”, a Filó voltou ao seu dono, Agenor ficou feliz, milhares, quiçá milhões ficaram realizados pelo gesto “heroico” da excelentíssima deputada e ela...bem, ela com certeza angariou milhares de votos sem fazer nenhuma campanha direta, afinal, já percebemos que em nosso país basta gritar, esbravejar e chamar palavrões para ganhar likes e eleição nesse eterno carnaval de malandros e heróis.