CONCLUINDO UM PENSAMENTO

Questionei a existência de Deus ao me deparar com situações nunca vividas, mas conhecida pelas mídias.

A injustiça aparece escancarada e NINGUÉM toma providência.

A revolta, na verdade, não é com Deus. É com o próprio bicho HOMEM.

Acompanha meu raciocínio: Sempre fiz de tudo para dar o melhor aos meus filhos.

Fui trabalhar como professora, numa escola particular, pois acreditava que em escola particular o estudo era muito melhor e eu não teria que pagar por isso. Eles teriam bolsa de estudo. Hoje já não penso assim, mas...

Assim, formei meus dois meninos até o ensino médio, numa escola com sistema apostilado, muito bem formados.

O mais velho, muito inteligente não quis fazer inglês nem espanhol. Eu podia pagar, mas ele não quis e eu acreditei que isso talvez não seria fundamental pra ele. Aulas de computação fez apenas um cursinho básico, mas ele não se ligava muito em tecnologia. Na época a coisa não estava tão borbulhante.

Quando ele chegou aos 17 anos, pediu para fazer uma tatuagem. Não deixei e propus: Aos 18 anos, com emprego arrumado, matriculado na faculdade, aí sim, você fará a sua tatuagem.

Ele prestou vestibular na Faculdade do nosso bairro para Engenharia Civil, pois era muito bom em matemática. Arrumou um emprego de ajudante geral em uma fábrica e então foi fazer a tão sonhada tatuagem : uma índia.

No meio do ano, resolveu mudar o curso. Prestou vestibular para fisioterapia. Não tinha nada a ver com o curso anterior, mas não é que o menino se deu bem? Só tirava nota alta.

Depois de um ano, veio com um papo que o curso estava muito chato e que queria mudar de novo. Queria fazer educação física. Eu fiquei transtornada. Acreditava que educação física não tinha futuro. Ele iria trabalhar em academia, em escola, ganha muito pouco. Mas ele teimou e resolveu mudar de novo.

Fiquei muito preocupada com o futuro dele, porém apoiei.

Mais uma vez, o menino se destacou e as notas eram máximas.

Inscreveu-se para ganhar uma bolsa e conseguiu. Fez os 3 anos que restavam recebendo a bolsa de estudos. Não desembolsei nenhum tostão. Isto era muito bom.

Aos 24 anos, conheceu minha nora e se casaram. Três meses depois minha neta nasceu.

Sempre apoiei em tudo, ofertando o meu melhor, sempre com carinho, com cuidado.

Quando chegou a pandemia, ele perdeu todos os alunos, pois era personal trainer e para sustentar a família, foi trabalhar de motorista de aplicativo. Alugou um carro e foi.

No ano passado, depois de muita luta, resolveu comprar um carro, mesmo sem dinheiro. Um carro de luxo, para ser motorista executivo. Depois disto, começaram os transtornos.

A esposa pediu separação. Não aguentou uma vida com pouco dinheiro.

Ele precisou alugar um lugar para morar.

Começou a trabalhar de manhã, de tarde, de noite, de madrugada...

Iniciou uma depressão.

Neste intervalo teve covid 3 vezes. Quase morreu na primeira vez. Teve fibrose pulmonar.

Depois nunca mais teve a saúde restaurada. Sempre adoentado. Mesmo assim, continuou a trabalhar muito para manter a qualidade de vida das filhas: escola particular, convênio médico, roupas, passeios, etc. Tudo como era antes.

Quem consegue manter um padrão de vida assim sendo motorista de aplicativo?

Enfim, eu ajudando na medida do possível.

De repente toca o telefone e era minha irmã, pedindo para que a minha neta não ligue no telefone dele, porque havia sido roubado. Nesta hora não sei o que pensei. Ele já deveria ter vindo buscar as meninas aqui em casa, como faz todo dia, porém já era 9 da noite e ele não havia aparecido.

Resolvi retornar a ligação da minha irmã, porque ela foi muito enfática e rápida.

Ela explicou que ele ligou no telefone fixo da casa da minha mãe, porque foi o único número que veio na memória, avisando que havia sido roubado em Suzano. Ele retornaria assim que conseguisse conversar com os policiais.

Aquilo me tirou o chão. Comecei a imaginar um monte de coisas. Queria me controlar para não assustar as meninas.

Minha irmã foi contando aos poucos o ocorrido e finalmente às 10.30h da noite ele chega em casa.

Estava todo machucado, levou muitas coronhadas na testa, do lado direito. As mãos estavam com marcas de cordas, pois amarraram as mãos e o pescoço. Teve um leve corte na altura das costelas. Apanhou muito. Entregou o único cartão que carregava, pois era o único que possui. Obrigaram a dar a senha do telefone e do banco. Batiam sem motivo.

Como ele fugiu?

Os três bandidos agiam com muita violência. Amarraram a mão esquerda e puxaram o braço para trás do banco. Ele ficou imobilizado deste lado. No pescoço passaram uma corda e toda vez que ele fazia algum movimento que eles não gostavam, era enforcado. Levava coronhada toda hora também. Fizeram ele dirigir em alta velocidade pela rodovia que ia de Mogi das Cruzes para Suzano. Como ele não podia reduzir nas lombadas e nas áreas de perigo, ele era obrigado a fazer curvas com muita velocidade . Ele percebeu pela conversa dos bandidos, que eles iriam leva-lo para o cativeiro. Sendo assim, numa rotatória, com muita velocidade, ele resolveu acelerar mais e o carro derrapou. Com a mão direita, soltou o volante, abriu a porta e ameaçou fugir. Os bandidos desceram correndo, ele acelerou o carro e fugiu, com as portas abertas.

Só parou quando encontrou um posto de combustível, quando o socorreram, chamaram a polícia e ele conseguiu avisar a família.

Ele passou mais de uma hora nas mãos dos bandidos e só conseguiu fugir, porque ainda não era a hora dele. Poderiam ter atirado, já que estavam armados e poderia ter morrido.

Ele chorou muito, as filhas, eu e o pai também.

Perdeu tudo o que arrecadou no mês, pois iria pagar aluguel, escola, prestação do carro, etc.

Seguiu uma semana sem conseguir trabalhar, pois os bandidos roubaram a senha do aplicativo do carro e tentaram usar, porém erraram algum comando e foi bloqueado. Ele não conseguia usar o aplicativo para trabalhar.

Voltou às atividades, com força e fé.

Na segunda-feira, depois de 10 dias, no dia 01 de maio, feriado, resolveu trabalhar logo cedo e quando foi umas 10 horas da manhã, recebemos uma ligação dele, avisando que o carro foi apreendido num comando. Não acreditei.

Ele, na certeza que o carro estava todo regular, sem nenhum problema de documento, não desviou do comando e foi parado. Os dois pneus da frente estavam gastos do lado de dentro e ele não viu. Teve que desembolsar três mil reais entre guincho, pátio de recolhimento, pneu, multa. Mais uma semana sem trabalhar.

E eu lhes pergunto: Alguém que você ama muito, que você conhece o caráter, que você vê a luta, merece passar por tudo isso?

Claro que não!

Mas o que Deus tem a ver com isso?

Deus pode mudar o destino que você mesmo escolhe?

Deus pode entrar no coração, na vida, na mente do seu cônjuge e lhe mudar o que sente e o que quer?

Deus pode mudar a conduta de um bandido, fazendo dele um monge budista?

Deus pode mudar a atitude dos políticos, que compactuam com a máfia do guincho, com a indústria das multas?

Pois é!

Deus não tem nada a ver com isso tudo.

A única certeza que eu tenho é que se você não acertar nas suas escolhas, não será Deus que irá mudar isso.

Também tenho certeza que os outros seres humanos exercem um poder enorme sobre você, se você não tem saúde ou não tem dinheiro.

Depender de outro ser humano é fato, mas esperar que ele seja um deus para você também não é o certo.

Portanto, minhas indagações a respeito da existência de Deus apenas me ajudou a ter certeza que o ser humano precisa de uma muleta para caminhar...

 

 

 

 

 

 

 

PoderRosa
Enviado por PoderRosa em 10/05/2023
Reeditado em 10/05/2023
Código do texto: T7785172
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