RITA LEE

ESSA TAL DE RITA LEE

Nelson Marzullo Tangerini

Há uma música minha, inacabada, de parceria com Nelson Maia Schocair, que diz: “Já fui jovem, já tive cabelo; cantei rock´n´roll na frente do espelho". Mas, como dizia Cazuza, “O tempo não para”. E, apesar de estar beirando os 70 anos, ainda ouço o velho e bom rock´n´roll.

É claro que, com o tempo, fui me tornando mais maleável, menos malévolo, e fui abrindo meus horizontes para a Bossa Nova, o xote, o baião, o choro, o blues, o reggae. Sem me importar se os Rolling Stones estavam mais bluesy do que rock ou outra coisa.

Houve um momento, tempo de faculdade, em que as pessoas ditas sérias odiavam Rita Lee e a música que ela fazia. Muitas vezes ouvi essa gente careta falar que ela era alienada, sem perceber que Rita era, na verdade, uma mulher avançada para o seu tempo, incentivadora da desobediência feminina.

Constantemente, olhavam-me enviesado, por gostar de Rita Lee. Outros eram chamados, também, de alienados - ou vendidos. Sem falar que diziam que Rock não era música brasileira. Como se a Bossa Nova não tivesse um dos seus pés no jazz americano. Como o funk e o rap brasileiros têm, hoje, um de seus pés no funk e no rap americanos.

Afinal, o que é música brasileira. A música dos povos da floresta? “O que foi que aconteceu com a música popular brasileira?” Deixo essas perguntas para os antúrios de plantão, embora Gilberto Gil já tenha dito que raiz é mandioca e rabanete. .

Na Faculdade de Comunicação Hélio Alonso, onde me formei em jornalismo, conheci uma moça que era uma ardorosa fã de Rita (não me lembro seu nome), a ponto de brigar por causa dela. Tanto, que, certa vez, quase arrumou um fuzuê dentro de uma loja de discos no Leblon. Minha amiga estava de costas, folheando discos, quando entrou uma senhora. O dono da loja perguntou à visitante se não queria comprar algum disco de Rita Lee. A senhora, com certa ironia, respondeu, então: “- Rita Lee? Eu odeio essa mulher”. A estudante de jornalismo virou-se, então, para trás, disposta a lhe dizer poucas e boas. Mas era a própria Rita Lee fazendo troça de si mesma. Regina Célia (chamemo-la, assim)) levou um baita susto, teve um chilique e, imediatamente, pediu para Rita autografar um disco para ela.

Rita Lee mutava a cada disco. E eu fui na onda, como tantos outros mutaram. Porque Rita enveredou pela Bossa Nova, gravou Samba do Arnesto, de Adoniram Barbosa, e escreveu músicas para Zezé Motta, Ney Matogrosso, Marília Gabriela e As Frenéticas, além de ter gravado com Elis Regina, Gilberto Gil, João Gilberto, Milton Nascimento e Maria Bethânia. Sua regravação de Gita, de Raul Seixas, é um primor. Por que não mutaríamos com ela?

Mas, ainda assim, os puristas a criticavam. Porque a alegria e sua proposta de fazer música os incomodava. Certa vez, vi o Teatro João Caetano pichado: “Fora, gringa!” porque, ali, Rita Lee fazia um show com sua banda Tutti-Frutti. Onde estão aqueles pichadores? O que fazem agora? Escreveram seus nomes na MPB? Ninguém reclama da péssima música que toca nas rádios?

Ninguém pode negar o que o rock desencadeou com suas músicas e letras inteligentes e revolucionárias. Porque, como disse Mike Jagger, “o rock foi a forma mais santa que a juventude encontrou para desobedecer ao estabelecido”. E agora? O que temos para hoje? É preciso arrombar novamente a festa. Basta de bosta! Rita Lee viva!

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 13/05/2023
Código do texto: T7787622
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