A Melhor Viagem

“A melhor viagem”

Não é o clima totalmente diferente, com as noites de sol. Muito menos o fato de falarmos outra língua. Em suma, as mudanças externas não se comparam com as internas.

São vinte dias. Eu e meu filho. São oito anos de idade. Vencido o primeiro ciclo da vida. Tenho 38, revólver mortal, calibrado e carregado. Uma dupla explosiva. Pronta para detonar.

Saímos pelas ruas de mãos dadas. Rindo um para o outro e o que é pior ( ou melhor? ) rindo um do outro. Crianças soltas. Preocupações básicas tais como: dormir bem, comer e passear. Enquanto viaja, brinca. Enquanto brinca, aprende.

Apreendo que a vida é mais simples na ótica infantil. Mas um homem adulto não precisa ser moleque para perceber que as coisas são mais fáceis do que imaginamos. Um dos segredos mais importantes é conhecer a si mesmo. O que eu quero? O que estou com vontade de fazer agora? Poderíamos passar o dia escalando uma montanha e outro viajando milhas e milhas de carro. E daí?

As prioridades pessoais estão intrinsecamente ligadas ao prazer. Dentro das mil e uma atividades que faço, escolho sempre o que mais me agrada. Assim funciona. Desta maneiro nunca deixo de perder a minha essência. E ela está impregnada no herdeiro, assim como ele faz parte de mim. No meio da tundra , na aridez do solo ártico, me encho de amor por você.

Incrível como conseguimos trocar horas de trabalho por minutos, segundos de relaxamento e não o inverso. Sei que todos têm obrigações e deveres, mas porque não fazer um equilíbrio? Pai, vamos ver um filme antes de dormir? Olha, se estiver meio tarde eu assisto só essa parte que estou gostando... Praticamente tudo pode ser dosado e escolhido. Se a vida lá fora está pulsando, posso muito bem crescer junto com ele aqui dentro.

Lá no Alasca. Foram 2400 quilômetros de carro, 03 trilhas na mata, 01 escalada de montanha, 06 horas de barco, pescamos salmão, ficamos em 05 cidades diferentes, passeamos em 03 museus, 02 zoos. Dormimos juntos, não desgrudamos um minuto sequer. Mas a melhor viagem foi perceber que eu sou pai de um filho maravilhoso e nada, nada mesmo, pode mudar isso. Meu sentimento por ele é incondicional. E apesar de vê-lo crescendo a cada dia, quem se sentiu maior, pleno de afeto; fui eu.

JB Alencastro jul/2002.

JB Alencastro
Enviado por JB Alencastro em 15/12/2007
Código do texto: T779222
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