PROFESSORA EUFLOSINA

Em geral é difícil a gente escolher um ponto no passado para começar a contar uma história. Ou a gente recua muito no tempo ou se aproxima muito do momento em que começa a escrever. Estou na indecisão.

Eu tinha lá pelos meus oito anos, uma idade inesquecível. Minha mãe tinha muitas amigas, colegas professoras e, naquela época, as pessoas costumavam trocar visitas. Eu gostava desses momentos, de observar a conversa _ dizia-se prosa _ na sala, com o vento vindo do quintal.

Não conheci crianças que apreciassem como eu aquelas tardes de visitas. Uma das visitantes da qual eu mais gostava era a professora Euflosina. Professora primária, era este o termo, da Escola Normal, importante instituição formadora de excelentes mestras. Aquelas mulheres sabiam como funcionava o chamado hoje processo de ensino-aprendizagem. Coisa muito simples, a professora ensinava, o aluno aprendia e o resultado aparecia.

Aquelas conversas foram as minhas primeiras aulas de didática. A professora Euflosina gostava de ensinar, sentia um prazer tão grande a ponto de extravasar-lhe pelo pequeno corpo. Magrinha, seus cabelos grisalhos e fininhos gostavam de fazer poesia no ir e vir do vento.

Viúva, vestia sempre uns vestidinhos comportados e cheios de flores lilases como convinha a uma senhora na sua condição. Sem o marido de um longo e único casamento, essas mulheres pareciam santinhas esperando o suave minuto em que partiriam ao encontro do bem-amado. Algumas delas até viajavam para a eternidade poucos dias após ser chamado o consorte. Eram defuntas lindas, com rostos felizes e um leve sorriso nos lábios.

Euflosina comportava-se patrioticamente e ali na sala cantava vários hinos: o da bandeira, o nacional e o de Sergipe, entre outros. Ficava de pé na hora do Nacional, tão compenetrada e apaixonada pelo Brasil, o único amante que teve. Além de cantar, a professorinha miudinha, compunha hinos em louvor ao Estado e à Pátria e poemas com temas infantis e de amor à natureza.

Sinto muita ternura por esta lembrança e ainda está em minha mente a voz fina e afinadíssima de Euflosina, professora primária, cantando _ de sua autoria _ O Brasil é nosso. O estribilho dizia assim: “O Brasil é nosso, confiar eu posso, o Brasil é nosso”.

A professora colocava o corpinho e a alma quando assim cantava. Ainda bem que já foi para eternidade onde vive feliz com o seu amado e não pode ver que o Brasil não é mais tão nosso assim.