Uma Vida de Circo X

Pelos caminhos de Minas

Hoje aqui, amanhã ali, passaram-se dois anos. Eu já era uma moça feita. O circo seguiu para Belo Horizonte e depois para outras cidades do interior de Minas Gerais: Divinópolis, Bom Despacho, Nova Serrana e São Gonçalo do Pará. Esta cidade era pequenina. O povo bom e carente de diversão. Nos finais de semana, o circo ficava lotado. Vinha gente de todo lado para assistir aos espetáculos. Eu notava sempre, ao me apresentar, um rapaz tipo boiadeiro, sentado na primeira fila de cadeiras. Entusiasmado, aplaudia muito. Uma noite, depois do espetáculo, mandou-me um bilhete, perguntando se eu queria sair com ele. Respondi, agradecendo, que o regulamento do circo não me permitia sair. Fiquei sabendo, mais tarde, quer era um fazendeiro rico e solteiro. Ele continuou assistindo aos espetáculos diariamente.

Terminou a temporada em São Gonçalo do Pará. Fomos para Pará de Minas, numa praça muito grande e boa. Na noite da estréia, qual não foi minha surpresa, ao me apresentar no picadeiro, deparar-me com o fazendeiro peão de boiadeiro, na primeira fila de cadeiras da platéia. Terminando o meu número, ele ,entusiasmado, tirou o chapéu, jogou para mim e disse:

- Êta que me caso com esta Loura.

Gentilmente, apanhei o chapéu e lhe entreguei. Ele pegou a minha mão e agradeceu.

Ele não perdia nem um espetáculo , em todas as cidades em que o circo se apresentava.

Assim se passou um ano. Eu já estava acostumada com aquele espectador, mas sempre de longe. Ele não desistia. Seguia todos os meus passos, querendo saber os programas da noite, que número eu ia apresentar e fiscalizava tudo. Eu estava empolgada com aquele atraente boiadeiro, mas não alimentava nenhuma ilusão. Sabia e conformava com a minha condição de simples artista.

(Do livro “Retalhos de Uma Vida” - de Aparecida Nogueira)

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 16/12/2007
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