Os dias e os vizinhos

Parece que todo dia são os mesmos. O sol atravessa as paredes das casas reflete no meu portão e entra fazendo sol na cerâmica branca da minha casa; mas não é. Os pássaros cantaram pouco hoje, os carros passaram menos, eu não ouvi a buzina do ônibus amarelo. Às vezes acordo e o sol continua baixo, às vezes na madrugada quando está tudo em silêncio, quando vejo que nada me atrapalha, muito menos os meus pensamentos intrusivos.

Mesmo com sol lá fora, o vento é frio, mas nunca saio lá fora e nunca entendi o motivo já que faz mais de dois anos que moro aqui.

Outro dia a vizinha chegou aqui e perguntou meu nome, depois de dois anos pensei que já me conhecesse, mas nunca perguntou e eu me culpei por isso, mas bem. Eu sempre soube o nome de todos e não foi preciso perguntar já que moram do outro lado da pista. Eu sei que a filha dela tem uma cachorra, um namorado, ela tem cabelo ondulado, mas usa prancha e o cabelo dela fica muito liso, ela trabalha a tarde na escola da manu não sei com quê, mas já vi. Não sou de prestar atenção em tudo, mas com tanta constância de entra e sai e conversas altas, não tem como não ouvir.

Aqui na minha rua temos duas pessoas com o mesmo nome, e são duas idosas. Acho engraçado por que eu nunca percebi que eram duas, sempre ouvia "dona Edna" para cá, "dona Edna" para lá, mas esses dias faltou manteiga aqui em casa e matheus meu marido, foi comprar na dona Edna. Me chamou para ir também e foi aí depois de dois anos que vi a outra dona Edna. Todos os dias falo com ela quando vou deixar a manu na escola, mas pensei que ela tinha outro nome, mas não me espantei. Não consigo acreditar que ela também é Edna até por que não combina tanto, mas independentemente disso, é.

Eu sempre desejei ter uma amiga vizinha, mas durante esses dois anos ninguém quis amigar, ou eu não quis sair de casa. Não sei se é pelo fato de meu pai falava que perto de ruas eram muito perigosos ou sei lá. O fato é que por não sair, acabei que não falando com ninguém, mas tem uma vizinha que mora do lado da minha casa. Ela vem por vezes na janela e puxa assunto e eu converso, mas não tanto quanto gostaria. Ainda acho que ela não é a vizinha de meus sonhos, ela tem gostos diferentes e eu sinto que não vai ser ela. Ela me conta a fofoca de todo o bairro, mas eu, como sou introvertida acabo que guardando tudo para mim e a maioria das minhas respostas são "ié?" "nossa!eu não sabia" "jura? Credo!" e por assim vai, nunca tenho uma resposta segura até por que não conheço a maioria. Ela termina um assunto e ver que eu não falo dos outros junto e simplesmente sai para a casa dela.

Tem outros dias que prefiro não abrir a porta e a janela deixar fechado também, ficar de moletom o dia inteiro e ficar no meu silêncio e eu acho que por isso, que não conheço todos. Mas independentemente de conhecer ou não, eu observo, e isso tudo é incrível para mim. Ver que as pessoas vivem suas vidas sem reparar nas dos outros, e isso torna minha vida mais silenciosa quanto eu queria. Não sei o que pensam de mim, mas o que eu sei é que fofoca não encontraram e muito menos meus segredos. Estou feliz assim, em ser uma vizinha silenciosa. Como eu mesma adotei.

Regiane s Vieira
Enviado por Regiane s Vieira em 09/06/2023
Reeditado em 09/06/2023
Código do texto: T7809222
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