O SUICÍDIO DO VERBO INFINITIVO

O SUICÍDIO DO VERBO INFINITIVO

POR JOEL MARINHO

Em uma madrugada fria eu caminhava um pouco às pressas para o trabalho quando encontrei o verbo “MATAR” chorando e lamentando a vida. Parei e quis saber qual a razão para tanta lamentação, ele saiu correndo enlouquecido em direção ao parapeito da ponte, trinta metros de altura, se jogou sem dizer mais nenhuma palavra.

Caiu o “M” com a pernas separadas, dois “As” triturados, dois “Rs” ensanguentados e o “T” ainda arquejando, foi socorrido e levado ao hospital das letras onde foi constatado o óbito, era o fim do sofrido verbo “MATAR”. Que ironia, o “MATAR” acabou se matando.

Enquanto a ambulância socorria o verbo notei um papel que ele tinha na mão e acabou caindo por ali antes dele se jogar repentinamente ponte a baixo. Curioso abri o papel e entendi o desespero do coitado. Em caixa alto estava escrito:

“PREZADO MIGUEL AQUI É O MANOEL ESTOU COM UM TERRITÓTIO DE “MATAR” PARA VENDER POIS MEU ÚNICO FILHO FOI EMBORA E NÃO QUER SABER DE “NADAR” DO CAMPO ESTOU A PONTO DE ME “MATA” COM TANTO DESGOSTO DA VIDA”.

Ao ler o bilhete senti uma imensa angústia tomar o meu ser, além da morte do verbo no infinitivo Manoel também atacou a vírgula, provavelmente precise nos próximos dias de terapia para não ir pelo mesmo caminho do verbo e pular a ponte. Também senti vontade de acompanhar o companheiro verbo, no entanto, lembrei que a falta de informação alheia não é problema meu, não a ponto de tirar minha sofrida, porém deliciosa vida.

Todavia penso que o “NADAR” também vai “NADA” ponte abaixo, visto que ele foi colocado do nada no lugar errado travestido de verbo infinitivo. Coitado, espero que não seja mais um que desista de viver.