CRIATURAS INVISÍVEIS

A cidade de Santos, onde vivem aproximadamente dois milhões de almas, é o centro funcional da Baixada Santista. Como já citei em outro texto, caminho bastante por minha cidade na companhia do meu Android, para registrar as cenas que tocam minha alma. Tenho o hábito de registrar aspectos do cotidiano que parecem ser ignoradas pela maioria das pessoas. São cenas que me permitem identificar criaturas invisíveis e com semblantes tristes, com as quais convivemos, mesmo sem percebê-las. Homens, mulheres e crianças, tal como nós: caminham, sentem frio, fome e sede, ficam doentes, algumas têm famílias e animais de estimação (geralmente cachorros). A diferença é que moram em estranhas casas desmontáveis e itinerantes, geralmente feitas de papelão e jornais – quando muito um roto cobertor. Exemplos dessas habitações eu os encontro por toda a cidade, dos bairros mais pobres aos mais bem estruturados, geralmente sob as marquises. Parecem ter vindo do espaço sideral, oriundos de um planeta chamado Miséria. Em pesquisa realizada recentemente, estima-se em torno de trezentos mil o número de moradores de rua no Brasil, sendo que em Santos, números revelados pela prefeitura dão conta de cerca de mil pessoas nessa situação. Fico tentando imaginar como essas pessoas chegaram a esse ponto, porém jamais vou descobrir. Fiz alguns registros e logo guardei o celular, pois meu coração se entristeceu com as cenas vistas. Voltei para casa pelo caminho mais curto, pois fazia muito frio naquele dia.

Um abraço

Arnaldo Agria Huss
Enviado por Arnaldo Agria Huss em 12/06/2023
Código do texto: T7812295
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.