AMOR COMPLICADO
Mesmo antes de acreditar que podia ser compositor sempre tive a curiosidade de saber como as musicas eram criadas, como apareciam, o que era de fato a tal inspiração.
Por isso escrevi essas crônicas para matar um pouco essa curiosidade de meus leitores. Todas elas têm alguma ligação com músicas que compus ou das quais participei de alguma forma mesmo que não fossem criações minhas. Hoje posso dizer que a maioria das perto de 180 que compus foram inspiradas em fatos reais da minha vida ou em historias que ouvi ou presenciei. As outras eu invento.
Nas crônicas que escrevo tinha evitado contar as historias pessoais minhas que serviram de inspiração para elas. Só que agora, já beirando as 80 primaveras, não vejo razão pra isso. Ia dizer 80 invernos, porém, agradeço a Deus que, apesar dos percalços e das comorbidades aparecidas quase sem sintomas, me proporcionou uma qualidade de vida excelente. Então são 80 primaveras mesmo.
O Amor Complicado se refere a uma fase da vida onde tinha que tomar uma decisão importantíssima de escolher entre minha ex (hoje grande amiga) e minha atual esposa (hoje e sempre minha grande paixão). Pela primeira vez na vida tive que pedir ajuda a uma psicóloga, mesmo que soubesse que a decisão final tinha que ser, e foi, minha. Ouvi a voz da razão, pois o coração se dividiu em dois.
Tenho certeza de que o coração tem essa capacidade de amar mais de uma pessoa, da mesma forma que pode ter varias grandes amizades. O interesse do ser humano por alguém, sob qualquer aspecto, é um direito que lhe assiste, assim como é um direito usar o livre arbítrio para tomar qualquer decisão a respeito.
Na época tinha uma filha pequena e minha atual decidiu transferir-se com ela para uma outra cidade pensando em não atrapalhar meu relacionamento formal de então. Maiores detalhes do caso não cabe escrever aqui. Só estou contando isso para que você, caro leitor ou leitora entenda a letra da música.
AMOR COMPLICADO
Almir Morisson
Eita que amor complicado
De repente aconteceu
Chegou meio atrapalhado
Tendo sabor de pecado
E aí se estabeleceu
Fez residência no peito
Se apossou do coração
Lá construiu moradia
Fincou os seus pés no chão
Foi então contaminado
Pelo vírus da razão
Sentimento comandava
E a razão dizia não
Também ela infectou-se
Naquela escoriação
Instalou-se um tal de ciúme
Bem perto do coração
Micróbiozinho danado
Derruba a gente no chão
E aí generalizou-se
Uma bruta infecção
Ela diz que não tem cura
Que o remédio é separar
Ele diz que se segura
Vai deixando como está
Se esse tal apartamento
For por um lado ajudar
Será também um tormento
Sequelas irá deixar
Principalmente a saudade
Difícil de aguentar
Ainda tem mais um perigo:
Se esse tiquinho de gente
Da vista ficar ausente
Deixa o peito ainda mais doente
Mudando assim de repente
De residência do amor
Em morada da tristeza
E domicílio da dor
O apartamento que falo na música tem sentido de afastamento e não de habitação.
O tiquinho de gente da letra hoje é médica e está com 26 anos.
Fiz a melodia e dei pro Maestro Tynnoko fazer o arranjo.
- O ritmo do que me mandaste está no estilo do Pavão Misterioso, disse ele, e como sempre fez aquele arranjo primoroso que apresentamos em um show do Clube do Camelo.
Gravação ao vivo nem sempre fica perfeita e em um pequeno trecho eu entrei fora do tempo, mas felizmente logo consertei, tanto que só percebe quem tem um excelente ouvido. Também com Tynnoko, Kzam, Gervasio e demais cobras tudo fica mais fácil. Um dia ainda vou gravar em estúdio, mas já dá pra vocês ouvirem a gravação do show.
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