🔵 Comendo que nem um cavalo

Já aviso que eu não sou um fã do cantor sertanejo, embora reconheço que ele está anos-luz à frente desse sertanejo universitário de balada, ao menos em autenticidade. Por acaso, cheguei no restaurante e churrascaria ‘Tião Carreiro’. O preço era bom e a comida era bem fornida, portanto resolvi arriscar o estômago no lugar com nome de restaurante de beira de estrada.

O aspecto lembrava o que deveria ser a rodovia Cuiabá-Santarém. Então, o lugar destoava de tudo o que eu suspeitava encontrar no centro de São Paulo. Confesso que o meu visual era bem discreto, mas não tinha nada a ver com o panorama, digamos, rústico da frequência do ‘Tião Carreiro’. Pensei em dar meia-volta quando me senti um forasteiro adentrando um “saloon” no Velho Oeste. Porém, àquela altura, seria pior recuar e, afinal, eu não estava no século XIX nem no Oeste Selvagem.

Me servi, achando que seria questão de tempo até me indicarem o caminho do ‘McDonald’s’ mais próximo. Contudo, fiz pose e cara de bruto e espetei o que parecia ser carne de alce, búfalo, antílope ou algum mamífero caçado no Alasca. Como opção, algum pássaro abatido a tiros que, na churrascaria raiz ‘Tião Carreiro’ era descrito como “ave”. Na minha frente, um porco giratório parecia me encarar. O “porco no rolete” era a vedete do lugar, no entanto, enquanto eu me alimentei no restaurante, por assim dizer, rústico, o bicho nunca foi dividido.

Pois bem, como não poderia ser diferente, comi como um cavalo. Acredito que consumi proteína animal suficiente para ofender o mais tolerante dos veganos, bem como armazenei calorias para hibernar o inverno inteiro.

Já havia terminado, teria que sair dali sem arrumar confusão. O pagamento me ajudou a começar a voltar para o século XXI, na cidade de São Paulo. Contrariando a frequência do estabelecimento, não havia nenhum cavalo amarrado na entrada.

Quando alcancei a calçada, voltei de vez para aquele centro urbano. Foi quando notei que o meu ponto de vista estava alterado, ou melhor, acostumado. O ambiente urbano, com o qual eu estava acostumado, era mais perigoso que qualquer cidade dominada pelos fora-da-lei, onde valia o olho por olho, dente por dente.

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RRRafael
Enviado por RRRafael em 26/06/2023
Reeditado em 26/06/2023
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