A SOPA
Neste ano de 1995, sem contar as músicas anteriores do Edyr Proença, os demais membros do grupo já tinham feito uma porção, durante os cinco anos que já estavam se reunindo regularmente no escritório do Dantas e desde quando se chamavam Clube do Camelo.
Já estava mais do que na hora de fazer o primeiro disco. “Tirar a lamparina de baixo da mesa para iluminar a sala" como dizia o Emanuel Matos que prefaciou o CD.
A primeira questão era: gravar em CD ou em vinil? Naquele tempo ainda se faziam as antigas bolachonas de trinta e três e um terço rotações. O CD ganhou disparado. Afinal era preciso seguir as novas tendências do mercado.
Para garantir a qualidade, a impressão é que se precisava de uma banda base, de músicos profissionais, já que, além do Fabiano que tocava escaleta e teclado somente o Dantas, o Gervásio e o Edyr tinham qualidades necessárias para tocar em uma gravação. Mesmo assim, com muito ensaio e algumas poucas limitações. Aos outros, que também tocavam violão, faltava a coragem ou sobrava a autocrítica. Os que não tocavam, cantavam ou compunham razoavelmente bem e ficou logo decidido que todas as músicas seriam de autoria dos membros do grupo. Dessa maneira, mesmo apoiados pela banda-base, todos poderiam, de alguma forma, participar.
- O Almir pode conseguir os músicos. Talvez os que ele conseguiu pela universidade para fazer o disco do Edyr.
Assim fiquei com a incumbência e corri atrás de quem pudesse fazer os arranjos e, ao mesmo tempo, conseguir os músicos. Tinham que ser da terra, e os melhores. O primeiro contatado foi o Luis Pardal que havia gravado o disco do Edyr, lançado em vinil e em CD. Por alguma razão, na época o excepcional músico não pode assumir o projeto. O Edyr lembrou do Tynnoko, também paraense e também músico dos melhores. O primeiro encontro com o novo arranjador ocorreu no NOVOTEL, onde morava o músico, e tudo correu às mil maravilhas, tanto que logo depois veio o FAX com o custo do serviço.
Ocorre que o valor era bem maior do que pensávamos. Pra nós muito salgado, embora dentro do mercado do métier. Nós é que não sabíamos. Mesmo dividido por 10 que era o nosso número, ainda ficava pesado. Naquela época o patrocínio para um grupo desconhecido era quase impossível.
Discute pra cá, discute pra lá e decidiu-se levar avante o projeto, definindo os detalhes posteriormente. Acabou-se fazendo o CD de forma independente, financiado pelo próprio grupo, uns dando mais, outros menos e outros ainda apenas com a participação, o que já era uma grande coisa.
Escolheu-se o repertório e partiu-se para os ensaios no apartamento do Dantas, inicialmente apenas com os Camelos.
A Lourdinha, esposa do Dantas, para deleite dos novos artistas, preparava todas as noites de ensaio uma sopa pra ninguém botar defeito. Começou aí, na inteligência do Eduardo, o desenvolvimento da crônica musical como uma das características do grupo. Saiu assim, com letra do Edu e música minha a "Sopa da Lourdinha".
SOPA DA LOURDINHA
(Alrmir Morisson e Eduardo Queiroz)
Para quem passo u o dia
Num corre-corre infernal
Vá pra sopa da Lourdinha
Que é substancial
Basta um prato de ternura
Para o moral levantar
Faz bem pra musculatura
Disse o doutor ao provar
O velhinho de oitenta
Reaprendeu a fazer
Tá com um pique de quarenta
E por aí vive a dizer
Para quem passou o dia
Num corre-corre infernal
Vá na sopa da Lourdinha
Que é substancial
A sopa leva cenoura
Batata da Noruega
Azeite de Portugal
Quiabo pra quem escorrega
Um camelo desgarrado
Do alimento disse tantas
Vale a pena ensaiar
O show na casa do Dantas
jun 95
O “quem escorrega" e o ”camelo desgarrado" da letra saiu por conta do Fabiano. É que num dos encontros na sede campestre do clube saiu briga feia - mesmo que só nas palavras. O Fabiano achava que o CD deveria ser gravado só com os membros do clube sem a banda base. Seu principal argumento era que as apresentações posteriores para divulgação do CD teriam que ser feitas com a banda-base, o que descaracterizaria o grupo, além de encarecer e que as apresentações do grupo nas reuniões informais ficaria muito diferente do CD, já que não contaria com os músicos profissionais. Até hoje ninguém sabe o real motivo. se o custo elevado. se a inibição de se apresentar em público ou se foi mesmo só teimosia. O fato é que o CD saiu sem a sua participação. não por falta de convite e paparicação, mas por sua peremptória recusa em participar.
Até hoje o Fabiano vai aos encontros, mas não participa das apresentações nem das gravações. Os Camelos ainda têm esperança de ouvir seu maravilhoso solo de escaleta num próximo CD.