O julgamento de Luís XVI

No dia que nós cidadãos conservadores, politicamente moderados e “bolsonaristas”, ficamos sabendo da possibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro ser julgado no TSE por “crime eleitoral”, já pudemos antecipar que ele perderia o direito de concorrer nas eleições de 2026.

Dentre os muitos indicativos que isso iria acontecer, um deles foi uma fala do nosso atual presidente na sua visita aos Estados Unidos, quando ele disse para o presidente Biden que “Bolsonaro não vai concorrer nas eleições de 2026. Tudo vai depender de nossa narrativa.”.

Por uma dessas “coincidências da vida” o ministro relator do processo no TSE, o “Tapinha na Cara” ou “Missão Dada Missão Cumprida”, na sustentação de seu voto disse, "o voto elaborado também cumpre finalidade de organizar a narrativa a respeito de fatos do nosso tempo.".

A definição de narrativa é "qualquer relato de uma série de eventos ou experiências relacionadas, seja não-ficcional ou ficcional.".

Quantos aos “fatos”, em outros tempos os tomaríamos como eventos reais, porém hoje é comum eles não passarem de narrativas.

Nesse caso o voto do referido relator foi baseado em narrativas que por sua vez foram o relato de outras narrativas, ou seja, um sistema fechado em torno de nada concreto.

Vemos que o termo usado pelo relator foi impreciso, do ponto de vista da seriedade que deveria ter um processo de tal importância, não só para o ex-presidente como também para a população.

Por mais que se queira diminuir a relevância de Bolsonaro, ele continua na mente de dezenas de milhões de brasileiros e se nós não estivéssemos vivendo um regime de exceção, esse fato não poderia ser ignorado.

A antipatia que eventualmente sentimos por alguém não é comprovação de que essa pessoa seja descartável para todos.

A essa altura os leitores podem estar se perguntando o motivo do título desse texto.

Ele é o título de um capítulo de “O livro negro da Revolução Francesa” que se inicia com o seguinte comentário:

“A ideia de um processo do rei era na realidade uma velha ideia. Já nos dias que se seguiram ao 10 de Agosto tinham sido elaborados três questionários, redigidos por um grupo de trinta deputados que estavam a trabalhar na investigação de «provas» contra Luís XVI. Imediatamente depois da proclamação da República, no dia 30 de Setembro, é nomeada uma comissão especial para instruir o seu processo. É verdade que os jacobinos e os girondinos continuam divididos: os primeiros querem a execução imediata e os segundos são de opinião que se deve dar uma forma legal a um assassinato premeditado.”.

É interessante observar como dois eventos separados por 234 anos na História, embora narrados com palavras distintas, na sua essência expressem o mesmo ambiente de injustiça e perversidade.

Argonio de Alexandria
Enviado por Argonio de Alexandria em 05/07/2023
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