Coisa de rico

Quando sol desponta, seu José pega sua traia, saco estopa joga em um dos ombros com a moringa cheia de água toma mais gole de café preto na canequinha de agata, acende mais um cigarro, que é sobrou de ontem noite. Sai na bicicleta, levando como passageiros a enxada, o enxadão, a foice, a tesoura e a marmita. São muitos sobes e desces até chegar à empreitada do dia. Serão 100 reais por dia, depois da capina de um eito , a limpeza do terreno, a abertura de leiras… e sempre aparecerão outras tarefas por ali, como nas outras também.

Seu José ganhara de uma das patroas uns eletrodomésticos, uns móveis e umas roupas de cama e banho. Agradecera, mas levar tudo aquilo na bicicleta? Ficou de arranjar um meio. Passaram-se semanas, nada. Um dia, a patroa ofereceu-se a levar no seu carro, fazendo mais de uma viagem, o presente tão almejado. Seu José agradecia a cada minuto. Deu e ainda vem entregar, Deus há de lhe ajudar, dona.

Meses depois, na mesma rotina de tarefas, ele e uma de suas patroas veem-se impedidos de seguir – rua interditada. Talvez para um conserto de asfalto, um tapa-buracos. Seu José desce do carro e ajuda um dos mais de 10 funcionários a abrir a barreira fechada com andaimes de ferro para sua patroa estacionar bem mais à frente. Nada reclama, faz aquilo com resignação.

Começa seu serviço, capina, corta, ensaca, sobe, desce. A patroa o chama, o traz à porta para que observe a razão do fechamento da rua desde as 8 da manhã. Um guincho enorme terá que erguer, pela encosta do edifício, uma banheira de hidromassagem, até uma cobertura. Seu José olha e diz Coisa de rico, né. Volta a seu serviço.

Jova
Enviado por Jova em 05/07/2023
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