O arroz com casca e nossa triste sina

Naquela pequena comunidade rural as pessoas levavam a sério suas responsabilidades. A jornada de trabalho começava quando o dia começava a clarear e terminava quase a noite. Cada um cuidava de sua tarefa com dedicação. Alimentar o gado, tirar leite, cuidar das lavouras e das hortas, lavar, passar, fazer as refeições eram as tarefas dos adultos e as crianças iam a escola. Mas havia uma exceção. Um rapaz alto, forte e um pouco gordo, devido a sua resistência a se dedicar a atividades físicas, passava boa parte do dia deitado na rede e por mais que insistissem com ele para que colaborasse nas tarefas, não conseguiam que mudasse seu modo de vida.

Até que um dia os habitantes se reuniram para decidir o que fazer a respeito do rapaz.

- Temo que tomá arguma providência, porque não podemo continuá aguentando a priguiça daquele ôme!

- Vamos expulsá ele da comunidade!

- Isso num adianta! Ele não vai querê i imbora!

- Vamo interrá ele vivo bem longe daqui! - Disse alguém.

- Mais isso é maldade!

- Maldade é o que ele fais cum nóis!

- E é um mal inxemplo pros nosso fio!

Finalmente ficou decidido que aquela seria a providência a ser tomada.

No dia seguinte a tarde, quando o preguiçoso já estava dormindo depois do almoço, quatro homens pegaram a rede com ele dentro com uma vara e saíram pela estrada com a comunidade toda fazendo alvoroço atrás.

No caminho depararam com um homem de cerca de 70 anos sentado no barranco e enrolando calmamente um cigarro de palha, enquanto esperava condução. O homem se espantou com o movimento e perguntou – o que se assussede aqui gente? Qui arvoroço é esse?

- É que nóis num guenta mais tratá da priguiça desse ôme. Inquanto a gente se mata de trabaiá ele só come e dorme o dia intero.

- Fais isso não gente! Um moço forte e bunito que nem ele! Leva ele lá pra casa que tem muito arrois lá!

Nisso o preguiçoso levantou ligeiramente a cabeça e perguntou – O arrois tá com casca ô tá sem casca?

- Ora, tá cum casca!

O rapaz arrematou sem pensar – Toca o interro pessoar!

Certa vez nosso “Inacinho Paz e Amor” disse que pobre se contenta com dez Reais. Nesse repente de sinceridade ele tornou público o método que iria usar para garantir os 100 anos de poder de seu partido.

E assim foi feito. Parcela não contabilizada, mas que sabemos ser expressiva através de relatos de várias partes do país, aceitou ficar “na rede” em troca de “dez Reais” e votar nos “seres bondosos” que os sustentam.

Entre trabalhar 40 horas semanais e receber um salário mínimo e não trabalhar e receber “dez Reais”, muitos escolheram a segunda opção.

Numa outra direção, políticos, intelectuais, artistas, empresários, funcionários públicos, sindicalistas, bolsistas, terceirizados de prefeituras, estados e órgãos federais, etc., também formam um bloco compacto de “deitados na rede” que preferem que o Brasil se torne uma Venezuela do que uma grande Coreia do Sul.

Argonio de Alexandria
Enviado por Argonio de Alexandria em 09/07/2023
Código do texto: T7832585
Classificação de conteúdo: seguro