COMPOSITOR JORGE MURAD

SACRIFÍCIO

Nelson Marzullo Tangerini

Lendo a revista Vida Nova, setembro de 1943, encontro, nas páginas 20 e 21, as “Anedotas de Guerra”, transcritas, com rara criatividade, por Jorge Murad. São inúmeras piadas, e, delas, retiro “Sacrifício”, por se tratar de uma situação quase parecida com a nossa, em face da semente do fascismo que estava sendo regada a conta gotas ao longo de quatro anos. Felizmente, conseguimos, através do voto eletrônico, despachar aquele sujeitinho arrogante, que, desde já, é considerado o pior presidente em toda a nossa história. Infelizmente, a idolatria, doença que deveria ser tratada com auxílio luxuoso da psiquiatria, continua nos assustando: no Brasil e no mundo.

E vamos ao Murad:

“Certa vez, foi Mussolini entrevistado por um repórter norte-americano. O Duce recebeu-o no seu gabinete de trabalho, no Palácio de Veneza, e, para satisfazer a curiosidade do visitante, que lhe perguntou se era verdade que o povo italiano o queria como um pai, disse que ia demonstrar-lhe até que ponto chegava o espírito de sacrifício dos italianos pelo seu chefe.

Assim, levou o correspondente até a sacada que ficava no segundo andar e lá do alto chamou o primeiro transeunte que passava, ordenando-lhe que subisse até o andar em que se encontrava. Chegando o homem lá em cima, Mussolini perguntou-lhe:

- Você seria capaz de sacrificar sua vida por mim?

- Por que não? – respondeu o homem.

- então, atire-se desta sacada, até a rua – ordenou o Duce.

Sem hesitar sequer um instante, o súdito italiano executou a ordem.

O jornalista ficou admirado. E Mussolini fez questão de fazer uma segunda experiência.

Quando o cobaia esteve à sua frente, fez-lhe a mesma pergunta. A resposta foi a mesma do primeiro. E com uma nova ordem do Duce, o italiano atirou-se à rua, de cabeça, com o maior dos entusiasmos.

Não satisfeito ainda, e querendo dar maior realce às provas de dedicação do seu povo, Mussolini mandou vir um terceiro transeunte. E a mesma cena se repetiu.

O terceiro cobaia correu para a sacada, com o fim de atirar-se em grande estilo, quando o jornalista, já ‘abafado’, com aqueles suicidas, impediu que o homem se sacrificasse. Dessa forma, segurou-o pelo braço, exclamando:

- Não faça isso! Não convém sacrificar sua vida.

O italiano desvencilhou-se das mãos do jornalista e respondeu bruscamente:

- o senhor acha que isto é vida?! – e atirou-se pela sacada”.

Jorge Murad Sallum Lasmar (1910 – 1998), filho de pais libaneses, foi ator, radialista, compositor, humorista e trocadilhista, com grande atuação no rádio, na televisão e no teatro.

Publicamos aqui um pouco de sua produção artística, segundo o site “Elenco Brasileiro”:

“1941 - Chuva de Estrelas (Teatro), 1942 - Da Guitarra ao Violão (Teatro), 1949 - A Borracha É Nossa (Teatro), 1949 - Passo de Girafa (Teatro), 1950 - Boa Noite, Rio! (Teatro), 1955/1956 - Pensão do Salomão (Televisão) - Salomão, o turco, 1957 - De Pernas pro Ar (Cinema) – Batista, 1957 - Aí Vem a Dona Isaura (Televisão), 1967 - O Sabor do Pecado (Cinema), 1968 - A Nega Tá Lá Dentro (Teatro) – Autoria, 1969 - Alô Mulheres, Aquele Abraço (Teatro) – Autoria, 1975/1976 - Katuca, Katuca, Mas Não Machuca (Teatro) - Autoria e Produção, 1984 - Não Me Venha com Indiretas (Teatro) - Autoria e Produção, 1985/1986 - Tem Pimenta na Abertura (Teatro) – Autoria, 1986 - Um Varão para Sete Mulheres (Teatro) - Autoria e Produção, 1987 - O Remédio É Mulher (Teatro) - Autoria e Produção”.

Como compositor, escreveu “A vaca Vitória” (em parceria com Wilson Batista), “Amendoim” (com Jararaca), “Armarinho ambulante” (com Jararaca), “Até papai” (com Arlindo Marques Júnior e Roberto Roberti), “Eu quero é galopar” (com Marion), “Feira do Chapadão” (com Jararaca), “Gastei tudo num dia” (com Ataúlfo Alves), “Guerra sem paz” (com Zé Menezes), “Hei de te ver” (com Pereira Filho), Hino do novo intérprete e compositor” (com Luigi Francavilla), “Mamãe eu vi o touro” (com Sátiro de Matos), “Nós, as mulheres” (com Jararaca), “Ornamento do mundo” (com Claribalte Passos e Sátiro de Matos), “Princesinha” (só dele), “Puxa cordão” (com Hervé Cordovil), “Quem foi que prometeu” (com Zé Menezes), “Quem nunca comeu melado (com Luís Barbosa), “Saluquinha (só dele) e Sarong (com Owaldo Santiago”.

Compor com Ataúlfo Alves, Jararaca (da dupla Jararaca e Ratinho) e Hervé Cordovil já diz tudo. Merecia ser lembrado como um dos grandes da MPB.