Escritores

Eu tinha uns onze anos e precisei fazer uma redação para a escola, a respeito de um documentário sobre o Egito, que havíamos assistido na aula de história. A redação que escrevi não me agradou, pois senti que não havia expressado bem minhas idéias; eu sabia que poderia ter escrito algo melhor, mas foi só o que consegui escrever naquele momento. No dia seguinte, enquanto fazíamos mais um outro trabalho na aula de história, a professora estava lendo nossas redações. Então, alguns minutos após eu ter dado o meu caderno a ela, ela me chamou e fez a seguinte pergunta:

- Você escreveu esta redação sozinho, ou teve a ajuda de seus pais?

Fiquei indignado com a pergunta dela; se ela já não havia acreditado que eu havia sido capaz de escrever aquele texto sozinho, por que ela iria acreditar no que eu estava para lhe dizer? Lembro-me, de que meio atrapalhado, eu respondi:

- Eu escrevi sozinho.

Voltei para o meu lugar, muito ofendido com a pergunta da minha professora, e confesso agora, que na ingenuidade dos meus onze anos, eu até senti vontade de chorar. Meus colegas perceberam o quanto eu estava abalado e me perguntaram:

- O que houve?

Contei a eles os detalhes.

Em seguida minha professora chamou-me novamente; era para que eu buscasse o caderno. Andei até a mesa dela, certo de que ela jamais acreditaria no que eu havia lhe dito. Ela me entregou o caderno, eu olhei para ele e li o que ela havia escrito; não lembro bem o que era, mas era algo como: muito bom, ou parabéns! Naquele momento eu sorri, e ao voltar ao meu lugar, meus colegas pediram para ver o que ela havia escrito, mostrei a eles e todos sorriram também.

Durante a noite, em casa, eu contei para todos o que havia acontecido na escola, e até mostrei a minha redação para a minha mãe e para a minha irmã e perguntei o que elas haviam achado dela. Lembro que minha irmã fez elogios. Mas este fato me marcou, pois aconteceu exatamente com um texto do qual eu não havia gostado. Eu tinha certeza de que era capaz de escrever algo melhor.

Já ouvi outras pessoas com o hábito de escrever, contarem fatos idênticos a esse, e acredito que são situações como essa, que nos fazem ter vontade de continuar escrevendo.

Muitas pessoas que têm o sonho de se tornarem escritores, acabam participando de alguma oficina de criação literária. Aqui em Porto Alegre existem muitas dessas oficinas. Houve uma época em que eu até pensei em participar de uma delas, mas logo desisti disso. Acho que esse tipo de oficina não serve para mim, sou anarquista demais para isso; não tenho disciplina alguma para escrever e só escrevo quando tenho vontade.

Quando inseri meus primeiros textos no Recanto das Letras, eu só queria receber algum comentário de alguém; queria expor meus textos à avaliação daqueles que também têm o hábito de escrever. Ao receber os primeiros comentários, me surpreendi muito; pois a pessoa que os fez, deixou-me comentários muito inteligentes.

O Recanto das Letras, é para mim, um dos sites mais interessantes que já encontrei na Internet. Aqui qualquer um pode publicar, não importa a idade, não importa se já tem trabalhos publicados, nada disso importa. Importa é ter vontade de escrever. E talvez, por esta grande liberdade que o site nos proporciona, é que ele funcione tão bem.

Já li neste site, textos de pessoas de todas as idades e de todos os cantos deste país. Nós publicamos nossos textos, lemos os dos outros, os comentamos e também recebemos comentários. Então, o que estamos fazendo aqui afinal? Por acaso não é o Recanto das Letras uma grande oficina de criação literária?

Provocador
Enviado por Provocador em 18/12/2007
Código do texto: T783492
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