Alberto Santos da Gama

Alberto Santos da Gama era conhecido por vários nomes — Beto, Betão, Gama e Alberto — mas para mim era por apenas um: apenas um sorriso irônico, sincero e cômico. Lembro-me da forma como tratava as pessoas, quem quer que fosse, ele queria elevar. "Grande Doutor Carlos!", ele dizia ao meu pai, "Doutor Yan!", a mim chamava. Tinha um cão que era uma versão animalesca do seu próprio eu, fofo, engraçado, por vezes bobo, simpático e comilão. Como todo bom brasileiro, adorava futebol, torcia para o Botafogo, seu time de coração.

Em nossa última conversa, propus a reflexão. Nos vemos em média estimada de 3 dias por ano, o que significa que temos apenas 2 meses, caso o senhor viva até os 80. Mas e se eu não estiver aqui nos próximos 20 anos? E se não nos vermos nunca mais?

No instante em que soube de sua partida, não chorei, não ri, não menti, nem falei a verdade, apenas imaginei. Imaginei cenários que não foram, se a relação de perda estivesse invertida, se ele não tivesse visto sua prole florescer, se a morte fosse um susto, se para este momento ele não se preparasse, se para alguns muitos ele não se despedisse, se em Cristo ele não estivesse, se em nosso último momento comigo ele brigasse. No fim, tenho a nítida impressão de que o pior ocorreu da melhor maneira.

Não obstante, cabe a nós aprender. Aprender a transbordar com elogios aqueles que amamos, aprender que cuidar da própria saúde e do próprio eu também é cuidar dos teus, aprender que em cada abraço pode haver a despedida de um laço. Aprender o sumo dos mandamentos, aprender a amar.