Cachorrada

Aproveitando o inverno quente aqui, saí para caminhar e tentar eliminar um pouco as calorias e manter a forma, cuidando da saúde; na saída do portão avistei um cachorro marrom ( agora dizem que o certo é caramelo), este me vendo sair para caminhar, resolveu ir junto. Tentei de alguma maneira fazê-lo voltar, com frases de comando : Xô cachorro! Para casa, já! Volta! Saí, vai embora! mas nada, ele não voltou e lá fomos nós, eu , o meu filho e o cachorro.

No caminho nos deparamos com uma cena triste e lamentavelmente comum, um cachorro morto na beira da estrada. Pelo visto era recente e foi de atropelamento; Não parei para olhar, pois me entristece demais, e continuei a andar, sentida com a cena, o cachorro que nos acompanhava chegou mais próximo e vendo, e pelo instinto percebendo que o cachorro não tinha mais vida, nos seguiu na caminhada.

Andando mais pouco passamos por vários portões fechados e com placas de advertência, tais como: Cuidado, cão bravo ou cão antissocial. Numa certa altura, um susto. Um cachorro grande, não sei a raça, veio em nossa direção, estava com coleira. Meu coração disparou, fiquei paralisada. Tenho medo de cachorro, pois quando criança fui mordida, e guardo ainda a lembrança da mordida tanto quanto da Laica, a cachorra vilã. Meu filho ficou junto de mim e ambos ficamos atrás de um poste de iluminação, enquanto nosso comnheiro de caminhada, o cachorro marrom, se mantinha dando voltas em torno de nós, com medo do outro que se aproximou. O dono do tal cachorro grande estava trabalhando ali mesmo e viu nosso receio, chamou pelo cachorro, de forma autoritária, o mesmo atendeu. Fred, é o nome do mesmo. Depois o homem disse que ele não atacaria, eu não acreditei e continuei parada ali na curva da estrada, esperando o Fred desisitir de vez, mas não, ele impelido pelo instinto animal, voltou e o nosso parceiro de caminhada, se enroscou entre nossas pernas, imagina a situação! Eu fiquei numa ansiedade só e pensei, pronto vou levar uma mordida de graça, pois se os dois se pegarem aqui, sem chance para o marrom, o Fred levaria vantagem. O dono do Fred vendo nosso medo, chamou o cachorro que voltou para junto de seu dono, todo mimoso, e ele disse que Fred nao iria atacar, estava só fazendo um reconhecendo, poderíamos seguir. Sem nem pensar duas vezss, seguimos. Apressados.

Continuando o caminho um pouco mais a frente, um bando de cachorros "desocupados", esses mesmos que ficam soltos na rua correndo atrás de outros cachorros, de motoqueiros, de gente e de gatos vieram ao nosso encontro. Como estes eram de pequeno porte, não fiquei amedrontada , mas pelo sim, pelo não, mudei de direção na rua. Nosso companheiro de caminhada ficou entre eles, rodeado sendo cheirado e depois de reconhecido como "membro da tribo", foi liberado ileso , vendo que nos distanciávamos, acelerou as passadas para nos alcançar. Parece mesmo que não iríamos ficar livre dele.

Após passar por essas situações, resolvi encurtar o caminho e voltar para casa, mas a atividade valeu em termos de esforço físico, foram vários passos na base da boa vontade , da determinação e do medo também. Chegando em casa fui tomar água, e trocar o tênis, e o cachorro quis entrar no quintal, mas não posso adotar outro, então resolvi deixar ração e água num canto debaixo da árvore próxima de casa, para ele se alimentar e saciar a sede. Embora fosse um cachorro magro ele não comeu, parecia não ter fome, e tentou de novo entrar no meu quintal, tive que ser enérgica com ele, que vendo que não conseguiria guarida ou um casinha aqui, foi para o vizinho.

Não sei de onde ele é e nem se tem dono, hoje não o vi e soube por alguns que ele foge de casa, é da região; mas ninguém soube dizer auem era o dono dele. Ainda em suspense. Esse nosso companheiro de caminhada, ainda que nao fosse chamado, se mostrou aventureiro e malandro, típico de cachorro caramelo, mas sua presença trouxe alguns sobressaltos e isso marcou o dia com um episódio diferente.

O poeta imortalizou a pedra no caminho; eu, mais simplória, digo: hoje foi o dia da cachorrada.