Vibe?! Que que é isso?

 

Rafael Porto, um amigo meu lá do Rio de Janeiro, capital, que, já faz muito tempo, anda sumido, dizia gostar muito das minhas crônicas gramaticais. Era assim que ele chamava, creio que ainda chame, as crônicas em que trato de coisas da língua. Que bom! Amo a gramática e, é óbvio, a linguística também. Este gosto não exclui aquele e vice-versa. É preciso saber distinguir sem estremar. Quem disse que a gramática exclui a linguística ou que esta exclui aquela? Os desavisados e, por conseguinte, jejunos das belezas e riquezas da língua. Só pode ser. “Não sei. Só sei que foi assim”, como diz o personagem de Ariano Suassuna.

 

Pois bem. Conheço o significado da palavra vibe. A despeito disso, porém, só por brincadeira ou coisa que o valha, como se não conhecera, pergunto o que é. Vibe?! Oxente! Que que é isso mesmo? É alguma coisa de comer? Ou de passar nos cabelos? Vai te danar! Fala português e deixa de invencionice. “Vibe”, que vibe coisa nenhuma! Não sabes o português, que é (na verdade, deveria ser) tua língua materna, mas te metes a falar inglês. Aliás, nem sabes que é inglês. Claro. Vai, pois, caçar o que fazer! Sim, eu sei que é gíria. Estou só brincando. Não vou cortar a vibe de ninguém.

 

A palavra está definida na rede mundial de computadores, e eu, evidentemente, vou dar o crédito. Está lá no sítio Significados, que todo mundo só diz site (quanta indulgência e ao mesmo tempo indigência, diga-se de passagem). Está lá, no site Significados, a definição do verbete: “Vibe significa vibração e é a diminuição da palavra inglesa ‘vibration’, em inglês. É uma gíria utilizada de maneira informal, geralmente por jovens e adolescentes.” Lá, está escrito assim mesmo, em negrito e entre aspas, o vocábulo vibration. Como diria o malandro: “Aí, eu vou pra galera, chefia!”

 

É um tal de “segue a vibe” para lá, um “não corta a vibe” para cá, um “curtir a vibe” para ali, e por aí vai. Faço a mesma observação para verve. Poderia perguntar: E verve, que é verve? Deixo de pôr em negrito, porque já é aportuguesada. Está no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras. Até já a usei, faz tempo, no poema “Sentimentos”. Eu disse: “calar-me-ei, cale sua verve.” A pergunta, por conseguinte, é retórica, de brincadeira. Só de brincadeira. Porque veio direto do francês, verve, e, a rigor, seria um galicismo, mas, repito, a palavra já foi incorporada à língua portuguesa.

 

O Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, quinta edição, dá a etimologia, diz que é galicismo e assim define o verbete: “Calor de imaginação que anima o artista, o orador, o conversador, etc.”, definição esta de que gosto muito. No mesmo sentido, o Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, de Portugal. Vibe, porém, nem como gíria eles registram. Talvez passe a onda e ela nem venha a ser registrada algum dia. Talvez, sim; talvez, não. Mas é assim mesmo. Mande bala, meu compadre! Não aceite que lhe cortem a vibe nem que lhe calem a verve.