Um tão breve amor... um tão longo estrago

Era uma vez uma pessoa que se encantou por outra pessoa, perfeita.

Essa pessoa, que vou chamar de Elisabeth, viu seus dias nublados se transformarem em dias ensolarados. O frio e o vento forte e glacial da Noruega tornaram-se tão amenos para ela. Não mais a faziam andar encarangada... deixava marcas pelos caminhos nevados, que pareciam corações acalentados, aquecidos, desamargurados...

Aos poucos aquele amor que parecia tão límpido, tão envolvente, tão quente... tão transparente, foi se tornando nublado, frio, com muitas pitadas de momentos desinteressados.

Beth pensou: 'Ah o tempo faz dessas coisas... afasta um pouquinho a paixão do momento...', afinal ela sabia que aquela sensação de euforia do início não duraria para sempre (a neurobiologia explica muito bem e Beth é profunda conhecedora desse tema) - a sensação de alegria e plenitude diminuiria... um pouquinho, imaginou ela.

Mas não. O desinteresse foi brusco. Foi cortante como uma faca do tipo armas de aço com alto teor de carbono, daquelas encontradas em Toledo, na Espanha...

Era só um amor interesseiro desses que duram uma estação.

Até agora Beth ainda não sabe no que encontrou o interesse o amor que trouxe dias tão coloridos pra ela. Ela, afinal, é o tipo de pessoa mais comum que existe.

Agora, enquanto me conta sua história, estamos sentadas em uma grande entrada de mar entre altas montanhas rochosas, originada por erosão causada pelo gelo de antigo glaciar... um fiorde.

E o frio é de rachar.

E ela me diz: 'Espero que esse sentimento passe... estava tudo bem em ter o coração frio, insensível... essa dor de agora não paga o calor com que o breve amor me fez encantar'.