LÁ VEM A SANTA

Lá vem a Santa enfeitada na berlinda, vejam só que coisa linda o Círio de Nazaré...

A música foi toda elaborada no escritório do Dantas, pelo Eduardo, Firmino, Gervásio e Dantas, especialmente feita para o I Festival da Canção Mariana. Como sempre o Dantas terminou a música em ritmo de samba. Até o Hino Nacional ele terminava em samba.

Depois de voltada ao ritmo de hino religioso, a música precisava ser gravada para inscrever no festival. Marcaram a gravação no apartamento do Dantas. Ao mesmo tempo já serviria de ensaio para a apresentação. O Eduardo ainda estava começando no clube e por isso um pouco inibido. Chegou cedo no apartamento e ficou apreciando os outros chegarem e começarem a cantar e tocar: tudo menos o Lá vem a Santa. Já estava agoniado, mas a falta de familiaridade o impedia de reclamar. Meia noite e nada!, uma hora, duas..., às duas e meia a Lourdinha lembrou:

-Mas vocês não vieram gravar a música do Eduardo?

- Tá bom pessoal, vamos logo ensaiar pra gravar essa . porra...! Retrucou o Dantas

E continuaram tocando e cantando outras coisas até as cinco quando todos foram embora sem gravar nada.

Apesar de com isso terem perdido o prazo da inscrição, como o Eduardo era da comissão organizadora, conseguiram enfiar a Santa sei lá de que jeito, gravada não sei como nem onde. Acho que lá no escritório.

A apresentação para os jurados foi no teatro Gabriel Hermes. Dizem que já estava tudo arranjado para a música do Edu ficar em primeiro lugar. Como estava demorando um pouco para começar, os tocadores foram "molhar o bico" num botequim do mercado da Bandeira Branca, defronte do teatro. Lá chegando o Dantas, Firmino, Gervásio e Eduardo, foram atendidos pelo balconista que muito solícito indagou:

- O que os senhores desejam?

Ao que todos responderam em coro:

- Cerveja !!!

Mesmo assim o garçom virou-se para o Eduardo e disse:

-E o senhor quer refrigerante?

-Nada porra! Vê também uma cerveja pra mim!

Comentou então baixinho com os outros Camelos:

-Será que só porque esse cara me vê franzino e todo torto acha que eu não posso tomar cerveja? Começou a discriminação!

Terminado o bi-toque todos voltaram para o teatro, o Gervásio já com seu violão de sete cordas. Ao chegar à porta o Gerva deu o pinho para o Edu e disse:

-Aguenta ai um pouquinho que vou buscar as dálias que esqueci no carro.

-Dália era a cola da música que a gente sempre deixava no chão, escondida dos olhos do público, para que o cantor não esquecesse a letra. Qualquer vacilo era só olhar disfarçadamente pra baixo que a memória era logo refrescada.

Diz o Edu pro Firmino e Dantas:

- Esse pessoal deve estar abismado. Devem estar pensando como é, que esse aleijado, consegue tocar violão? E logo de sete cordas!

O Eduardo é assim. Goza de sua própria deficiência. E já está se acostumando ao fato, pois dias antes havia acontecido coisa parecida quando o Dantas tinha deixado o Edu segurando seu violão na porta do mercadinho, em baixo do seu escritório, enquanto voltava para atender um cliente de emergência.

Outro dia o Edu comentou quando descia as escadas do escritório junto com uma amiga médica e cantora, Maria do Carmo, que havia fraturado a perna:

- Vão pensar que aqui é clinica de acidentados! É só aleijado e engessado descendo as escadas.

Mas, voltando ao festival. Na hora da apresentação do Lá vem a Santa um amigo do Edu gesticulava da plateia. Acho que era o padre organizador. É que, por mais que os Camelos se esforçassem, ninguém ouvia nada. Os microfones não correspondiam. Conseguiram consertar alguma coisa ainda a tempo, mas a apresentação foi feita sem o som de um dos violões.

Quando apareceu para a música a nota zero na planilha dos jurados, foi aquele rebuliço. Reclama daqui, reclama dali, mas não houve jeito. A Santa foi, não veio. Des-clas-si-fi-ca-da! Até hoje o Eduardo jura que o zero aconteceu pela troca das planilhas dos jurados, pois: - tava tudo arranjado!...

Só sei que no fim da festa deram um jeito no sem jeito. O primeiro lugar, hors concours. com louvor, foi de uma outra música do Edu em parceria com o bispo auxiliar ou sei lá com quem, que até hoje ninguém lembra.

Pra quem não conhece, a letra da música desclassificada é assim:

LÁ VEM A SANTA

(Gervásio Cavalcante, Raimundo Dantas Firmino Sousa Filho e Eduardo Queiroz)

Lá vem a Santa enfeitada na berlinda

Vejam só que coisa linda o Círio de Nazaré

O peregrino incansável na jornada

Segue firme, pé na estrada, demonstrando muita fé

O promesseiro carregando sua cruz

Repetindo pra Maria a mesma cena de Jesus

Homem, mulher, criança, jovem, ancião

Buscam a terra prometida, encontram Deus na oração

Os sinos tocam quando a imagem vai passando

Fogos sobem detonando, alegria, emoção

Valeu a pena mais um Círio acompanhar

Pois a dor do sacrifício a Virgem Santa vai curar.