O Marco Histórico do Napalm Death (1987)

(Eu não pretendo me estender muito; apena prestar homenagem à minha Band do Coração mesmo...)

Eu conheci o Napalm Death por volta de 1.995. Não consegui ouvi-los: para mim, era uma "barulheira infernal" ou algo similar... (Admito que o tempo passa e a maturidade ajuda muito a rever conceitos).

Fui ouvir o Scum (1987) dos caras (com dois ND distintos, um para cada lado do disco homônimo) por volta de 1997. Só assim eu comecei a gostar (eu tinha me esforçado um pouco para tanto; meu gosto musical estava limitado a material mais acessível...) O "Descanse em Paz" do RDP (1986) tinha, com efeito, preparado os meus ouvidos para sons "menos comuns". O vocalista de minha terceira experiência musical* (eu ficava incumbido de "tocar" a guitarra) tinha dito algo como "Lobotomia [a cover da banda homônima, presente em "Feijoada Acidente Brasil" do RDP] lembra Napalm pra caramba, não?" Minha resposta foi afirmativa (e fora acompanhada por um certo sorriso, se não me engano).

De uns tempos para cá eu tenho ouvido o Scum com um propósito maior que o da mera fruição musical. Eu procuro por sons de guitarra (microfonias também contam nisso) que possam servir como referência para algumas composições minhas (em especial para meu projeto musical experimental de nome Ultra Clean Power; mas isso é outra história e merece uma crônica à parte). Há, logo na intro de "Multinational Corporations", um som similar ao de guizos (deve ser prato de condução ou de ataque da bateria), que cede espaço aos pratos e a dois powerchords que são tocados de modo rápido porém suave.** E na passagem entre "M.A.D." e "Dragnet" (duas últimas canções Lado B do disco) há uma microfonia resultante do retorno (Feedback), provavelmente obtido ao se manter o pedal pressionado (Hold) enquanto se sustenta esse som. Essas duas referências são-me caras, pois marcam parte da proposta original dos caras: fazer (produzir) um som anticomercial, anti indústria da música. Um tipo de ideal punk per se. Se os avós (Swans) fizeram os pais (Napalm Death) soarem muito parecidos com os primeiros (isso em "Evolved As One" e "Internal Animosity"; um papo para outra crônica), o Scum já começava a dar sinais de uma pegada um tanto industrial. Os meados dos Anos 80 permitiram que alguns artistas mais ousados fizessem suas incursões em terrenos jamais imaginados. A No Wave tem relação direta com isso. Mas à parte essas digressões (interessantes, até), voltemos ao Scum. Ele continua intocável. Não pode ser ultrapassado, revisto, modificado. É um marco histórico do metal extremo. O som do punk hardcore elevado à enésima potência e encorpado por um vigor do metal.

NOTAS

* Falarei sobre isso em outra crônica.

** Ver Multinational Corporations Guitar Tab. Disponível em: <http://metaltabs.com/tab/1831/index.html>. Acesso em: 24 jul. 2023.