A Forra

Naquele dia resolvi aplicar meu plano secreto. Os vizinhos do andar de cima não me deixavam dormir. O barulho de tantas passadas pela casa toda, martelava na minha cabeça (Acho que também jogavam bolas de gude pelos corredores).

Eu agoniada, precisando dormir, acordar às cinco para estar em sala de aula antes dos alunos, já chegava cansada e com olheiras das noites mal dormidas. Aquela seria a minha noite! Comecei por escolher os itens que me ajudariam na trama. Um pequeno pedaço de madeira, dois cabos de Vassouras, duas peças de ferro para as articulações e alguns parafusos. A peça, em formato de "U" estava quase pronta. Agora eu procurei um par de sapatos com saltos tipo "agulha", daqueles com ferrinhos nas pontinhas. Iria precisar também de uma cola rápida. Colei os sapatos nas pontas do U. Tudo pronto para o início dos trabalhos Jajânicos. Quando a noite do andar de cima se calou, certifiquei-me de ouvir o ronco do sono dos injustos. Comecei com os toque- toques, saindo lentamente da cozinha, seguindo pela sala e adentrando os quartos, com meus pezinhos no térreo, sem ninguém embaixo pra se atormentar e, lá no alto, meus sapatinhos sem pezinhos passeando pelo teto. Em poucos minutos, aqueles benditos vizinhos pularam de suas camas, aflitos, com o sangue fervendo, tal como ferve o meu todas as noites. Lentamente fui diminuindo as passadas dos pés de mentira e, com meu sorriso de volta, com a alma lavada fui pro meu travesseiro. Depois dessa "conversa dos pés", acho que entenderam o recado e me devolveram o sono dos justos!

Jandiel

Jandira Leite Titonel