A foto de um deus

Corria o Ano da Graça de 2015 e estava eu fagueiro, serelepe e pimpão depois de um lindo passeio no Pão de Açucar (na verdade eu não estava nada contente de ter estado naquele bondinho, existe um nome para o medo de altura, eu prefiro chamar de cagaço); foi quando já fora das dependências do ponto turístico carioca e pisando em terra bastante firme, minha então esposa fala:

- Olha lá o cantor do Queen!

Eu não dei bola, pensei se tratar do cantor contratado Adam Lambert, que embora muito talentoso nunca me despertou muito interesse. Também não havia possibilidade de ser Freddie Mercury, pois este havia falecido poucos meses depois de meu nascimento, em 1991. Continuei meu caminho. E ela novamente me interpela:

- Olha lá a cabeleira branca dele!

O tico e teco do meu cérebro entraram em curto-circuito. Como assim cabeleira branca? Senhoras, senhores e senhoritas... quando eu me virei para ver... Simplesmente Brian May, um dos maiores guitarristas de todos os tempos, um Deus do Rock e um dos meus ídolos. Nunca havia encontrado um ídolo e realmente pensei que minha reação seria muito mais racional do realmente foi. Não, eu não fiquei histérico. Estupefato, abismado, boquiaberto, seriam melhores termos. E depois, só depois eu fiquei histérico, chamando aquela lenda da música com um inglês macarrônico com o melhor sotaque que eu conseguia:

- Brian (Braian), Brian!!!

O local não estava cheio, mas aparentemente só eu sabia da dimensão daquele ser entrando naquele carro, protegido por um segurança com bastante porte de segurança. Mas... finalmente ele olhou para mim. Nos entreolhamos, e aquele segundo foi só nosso. E ele acenou para mim, o amor é lindo quando é verdadeiro. Então finalmente eu tive a inovadora ideia de tirar uma foto, eu mal sabia o quão nervoso estava. E quando finalmente tirei a foto percebi o quanto eu estava trêmulo, e a foto de um dos maiores músicos da história acenando para mim ficou igualmente trêmula. Neste momento, minha então cônjuge tomou o celular da mão daquela criança de 24 anos e tirou uma foto bem melhor. E então Deus, quer dizer, Brian May seguiu seu caminho.

Alguns (ou talvez muitos) segundo depois, a criança cedeu lugar ao marido e pai de família que deveria habitar aquele corpo e eu só pude pensar: “Brian May acenou pra mim”. Lembranças e lições valiosas deste dia: mantenha seu celular carregado; na dúvida peça a outra pessoa para tirar a foto; e principalmente, não subestime seus sonhos de criança muito menos seus sentimentos.

Eu não sei se já escrevi aqui, mas Brian May acenou para mim.