Um Castelo De Areia

Eric do Vale

A fim de conscientizar os seus compatriotas da “ameaça comunista ", uma parte da nossa população criou um movimento cujo lema era: "Deus, Pátria e Família". Passados quase sessenta anos, a história se repete: apesar da queda do Muro de Berlim e a dissolução da União Soviética, o fantasma do comunismo continua assombrando essa mesma parcela brasileira.

Diga-se de passagem que a "praga vermelha” não passa de uma ponta do Ice Berg e até mesmo um pretexto para que esses nossos patrícios busquem defender a moral e os bons costumes de tudo aquilo que possa ser permissivo para a nossa sociedade. Por isso, norteiam-se pela tríplice "Deus, Pátria e Família".

Está bem, vivemos em uma democracia e, portanto, deve-se respeitar as opiniões contrárias, mesmo não concordando. Sim, é verdade. Entretanto, deve- se entender que para todo e qualquer pensamento requer a necessidade de haver, pelo menos, uma certa coerência. Vejamos: qual a finalidade de alguém, em plena modernidade, defender teses reacionárias em prol de "Deus, Pátria e Família "? Logo, faz- se os seguintes questionamentos: Que Deus? Que Pátria? E que Família?

Chega a ser surreal promover um levante com traços políticos utilizando o nome de Deus, pois é sabido, por intermédio da Constituição Federal, que o Brasil é um país laico no qual determina a liberdade, o respeito e a proteção à crença a diversos cultos religiosos. Inexistindo, assim uma religião oficial, em solo brasileiro, desde 1891, quando a antiga lei maior reconheceu a separação entre a Igreja e o Estado.

Torna-se curioso e, por isso, necessário procurar alguém que comungue com esse tipo de pensamento e dizer que já se foi o tempo em que um referencial familiar era definido por meio de um antigo comercial de margarina, em virtude da pluralidade de famílias existentes, atualmente, as quais são reconhecidas e amparadas pelas nossas legislações. Possibilitando questionar esse modelo de família defendido por esses nossos compatriotas.

Seria trágico, se não fosse cômico acreditar que tais pessoas que se dizem ufanistas, enrolando-se com a bandeira do Brasil, desconheçam as leis e a História do Brasil.